Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelam que aproximadamente 30 mil mulheres são diagnosticadas, todos os anos no Brasil, com algum tipo de câncer ginecológico — grupo de tumores que afetam o sistema reprodutor feminino, como os cânceres de ovário, colo do útero, endométrio, vulva e vagina. Neste mês, a campanha Setembro em Flor busca conscientizar sobre a importância da prevenção, diagnóstico precoce e atenção aos sintomas. Segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), os tumores ginecológicos representam cerca de 19% dos diagnósticos de câncer em mulheres no mundo. A médica oncologista Virgínia Altoé Sessa, do Hospital Santa Rita, alerta que estar atenta aos sinais do corpo pode ser decisivo. “Desconforto abdominal, dores pélvicas, dor durante a relação sexual, aumento do volume abdominal e sangramentos irregulares — inclusive fora do período menstrual ou na menopausa — são sintomas suspeitos. Se perceber qualquer um deles, é fundamental procurar um ginecologista”, afirma. Exames periódicos salvam vidas Além da atenção aos sintomas, a médica reforça que os exames de rotina são indispensáveis, mesmo na ausência de sinais. “O preventivo deve ser feito pelo menos uma vez ao ano. Dependendo da idade, histórico familiar e quadro clínico, o ginecologista pode solicitar outros exames que ajudam a identificar alterações antes mesmo de evoluírem para câncer”, explica Virgínia. Segundo a oncologista, o principal desafio ainda é o diagnóstico tardio, que ocorre quando a mulher não apresenta sintomas nos estágios iniciais e acredita estar saudável. “É justamente por isso que é essencial manter os exames em dia. Mesmo sem queixas, a mulher precisa ir ao ginecologista com regularidade. E se perceber algo fora do comum, deve investigar imediatamente, em qualquer idade”, orienta.
Escola pública de Aracruz ganha biblioteca aberta à comunidade
O município de Aracruz, no Norte do Espírito Santo, vai ganhar um novo espaço literário aberto à comunidade. A partir do dia 10 de setembro, entra em funcionamento a biblioteca comunitária Alberto Mussa, dentro da Escola Municipal Eurípedes Nunes Loureiro, por meio do Programa Ler o Mundo, do Instituto Oldemburg de Desenvolvimento. A ação conta com o patrocínio da Imetame, apoio da Prefeitura de Aracruz e está alinhada à Política Nacional de Leitura e Escrita. A biblioteca será inaugurada com uma programação especial para alunos da rede pública, incluindo contação de história dramatizada. Com 1.000 livros físicos (500 títulos duplicados), o espaço também oferecerá acesso à Biblioteca Digital Ler o Mundo, com 513 e-books e 82 audiolivros, ampliando o alcance da leitura para públicos diversos. O acervo contempla desde clássicos da literatura até obras contemporâneas, voltadas para leitores infantis, juvenis e adultos. Além do acervo, o diferencial do projeto está na atuação dos mediadores de leitura voluntários — moradores da própria comunidade, selecionados e capacitados para organizar os livros, estimular o uso da biblioteca e promover atividades culturais. “A leitura aqui é um pretexto para algo maior: fortalecer vínculos, valorizar a identidade local e criar espaços de diálogo e aprendizado”, destaca Cristina Oldemburg, diretora do Instituto. Uma ponte entre a escola e a comunidade A secretária de Educação de Aracruz, Jenilza Spinasé Morellato, celebrou a chegada da iniciativa. “Receber este espaço é muito mais do que inaugurar uma biblioteca. É abrir as portas para um universo de descobertas e sonhos. Acreditamos no poder transformador dos livros: eles despertam a cidadania e têm a força de mudar vidas”, afirmou. A biblioteca homenageia o escritor Alberto Mussa, um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea
Neymara Carvalho conquista pódio em Portugal e se prepara para etapa final no ES
A pentacampeã mundial de bodyboarding Neymara Carvalho conquistou o terceiro lugar no Sintra Pro Fest, penúltima etapa do Circuito Mundial de Bodyboarding, disputada neste domingo (6), na Praia Grande, em Sintra, Portugal. Foi o melhor resultado da capixaba na temporada 2025. Agora, ela retorna ao Brasil para a última etapa do ano: o ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro, que começa nesta quinta-feira (11), na praia de Jacaraípe, na Serra, Espírito Santo. “Fui bem. Gostei da minha atuação, da minha competitividade. Muito bom voltar a Sintra e poder acompanhar o desenvolvimento do esporte aqui em Portugal. Essa é uma etapa histórica, que não faz tanta diferença no ranking, mas faço questão de estar, representando meus patrocinadores, especialmente a ArcelorMittal, o Instituto Neymara Carvalho e todas as crianças que sonham em competir aqui um dia”, afirmou Neymara, de 49 anos, presidente do Instituto Neymara Carvalho (INC) e atual número 6 do mundo. Na campanha até o pódio, Neymara avançou da primeira fase ao lado da japonesa Yuka Nishimura e da portuguesa Luana Dourado. Nas quartas de final, superou a portuguesa Joana Schenker com 12,75 pontos. Já na semifinal, parou em Luana, que terminou como vice-campeã da etapa. O título ficou com a portuguesa Filipa Broeiro, enquanto a japonesa Sara Abiko completou o pódio. Destaque da nova geração também representa o ES Neymara esteve acompanhada em Portugal por Bianca Simões, de 19 anos, uma das revelações do bodyboarding capixaba e atleta do Instituto Neymara Carvalho. Disputando seu primeiro ano exclusivamente na categoria Profissional, Bianca terminou em nono lugar em sua estreia na etapa de Sintra. No evento anterior, em Iquique (Chile), ela havia alcançado o quinto lugar. Atual top 8 do ranking mundial, Bianca também estará na disputa da etapa capixaba. Etapa decisiva no Espírito Santo Fechando o calendário do Circuito Mundial, o ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro, idealizado e organizado por Neymara, vai reunir as principais atletas do mundo entre os dias 11 e 21 de setembro. O evento acontece na praia de Jacaraípe, e definirá as campeãs da temporada nas categorias Profissional, Pro Junior e Máster. A expectativa é de que o evento movimente a cena esportiva no Espírito Santo e reforce o protagonismo capixaba no cenário internacional do bodyboarding.
João Gualberto – “Newton Braga”
Newton Braga é resgatado como figura central da literatura e da cultura capixaba, com obras que unem lirismo e valorização da identidade de Cachoeiro. Todos os que leem esta coluna certamente conhecem o grande cronista Rubem Braga, o “rei do texto leve”, como a ele costuma se referir Rogério Medeiros, ele também uma estrela do nosso jornalismo investigativo. Rubem brilhou no jornalismo brasileiro desde o fim da II Guerra até sua morte, no início dos anos 1990. Quase todos sabem, também, que ele nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no início do século XX – mais exatamente em 1913 – e que gostava muito de se referir a sua cidade natal em suas crônicas. O que nem todos sabem é da importância igualmente como escritor, mas também como grande animador cultural, de seu irmão mais velho, Newton Braga. Ele viveu uma vida curta: morreu aos 51 anos, no Rio de Janeiro, em 1962, para onde havia se mudado três anos antes. Dono de um texto leve e elegante, foi escritor muito talentoso, mas produziu pouco. Sua literatura é feita a conta-gotas, dentro de seu estilo pessoal pouco afeito a muitas exibições. Talvez por essa excessiva modéstia não tenha alcançado todo o sucesso que certamente mereceu. Ele gostava das coisas mais simples: pescar, ler, conviver com os amigos, e teve a vida marcada por essa simplicidade. Seus filhos, Marília, Raquel e Edson, organizaram, em 2011, ano em que o escritor faria cem anos, um livro com ricos depoimentos sobre sua trajetória, sob o título Newton Braga, cachoeirense ausente. Helena Carone, em sua introdução e no texto em que explica o método utilizado nas entrevistas, revela, entre tantos outros fatos, que, além de escritor, Newton foi o criador do Dia de Cachoeiro e do título de Cachoeirense Ausente, dado anualmente a um personagem importante para a cidade e que não mais more naquele município. Jornal, rádio, carnaval, festa da cidade, teatro, literatura, política, esporte, educação, publicidade, folclore e até bate-papo no bar, nada acontecia em Cachoeiro que não fosse ideia de Newton Braga, “coisas do Dr. Newton”. Segundo depoimento de seu compadre e grande amigo Newton Meirelles, Braga militou na Esquerda Democrática (que depois se transformou no PSB), mas por causa do grupo de amigos e não pelas ideias políticas. O amigo o achava individualista, portanto não poderia ser socialista. Newton Braga, na verdade, achava que a Esquerda Democrática podia fazer coisas boas pela cidade e aproveitou muitas dessas ideias fora do campo partidário. Chegou, sem entusiasmo, a ser candidato a vereador. Teve poucos votos. Em sua obra destaca-se um pequeno e muito interessante livro chamado Histórias de Cachoeiro, que trata dos principais acontecimentos de sua cidade natal, citando seus primeiros grandes marcos, como jornais, jornalistas, escolas e professores. É, sem dúvida, um chamado à cultura cívica de sua terra, feito para a juventude. Depois da morte de Newton, Rubem Braga reuniu boa parte de seus escritos publicados em vida para uma nova edição. Nela estava Cidade do Interior, originalmente parte da coleção “Os Cadernos de Cultura” do Serviço de Documentação do Ministério da Educação, que continha uma seleção de “casos e epigramas” publicados por Newton, durante muitos anos, no suplemento dominical do Diário de Notícias do Rio. Ele preparava uma segunda coletânea para a Editora do Autor quando a morte o colheu. Rubem terminou esse trabalho para seu irmão. Por definição, epigramas são curtos e cortantes, exigindo muita perícia de quem os redige, seja pela veia satírica, seja pela concisão das ideias. Quando morreu, Newton preparava a edição de um livro contendo novos casos e epigramas. Como já morava no Rio de Janeiro, tinha uma outra direção na sua escrita, que então se destinava à veiculação na grande imprensa carioca da época. Lirismo Perdido é um inspiradíssimo livro de poemas que reúne grande parte de sua produção poética. Nele há uma linda reflexão sobre a vida chamada Fraternidade, que termina com os versos que reproduzi para iniciar este texto em homenagem a um grande, e hoje esquecido, autor capixaba. *João Gualberto Vasconcellos é mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura. Foi secretário de Cultura no Espírito Santo entre 2015 e 2018. *A opinião do articulista é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a posição do portal News Espírito Santo
Gustavo Varella – “Contribuições para o debate – direita e esquerda”
Como acentuado no texto “Prólogo” que publiquei na semana passada, a intenção é trazer ao campo das discussões informações que contribuam para a construção (ou restauração) de um debate digno, equilibrado e proativo, no sentido da evolução de todos nós e da sociedade. Pequenos excertos de fatos históricos, alguma matéria jurídica e outros dados que julgo, modestamente, relevantes à reflexão necessária a todos nós — mais ainda àqueles que, como eu, preocupam-se em apreender e compreender (o que não significa aceitar), mais do que vencer disputas ideológicas ou afins. Ressalto — promessa que me fiz — que a proposta inclui o esforço de não deixar prevalecerem impressões fruto de convicções e experiências pessoais, que se infiltram e contaminam o ambiente. Além disso, também os compromissos de evitar o chamado “juridiquês” e de atentar para a célebre lição de Winston Churchill: “Das palavras, as mais simples e diretas”. Dentre os temas mais inflamados desses últimos dois séculos está a disputa retórica entre os que se dizem “de direita” ou “de esquerda”. Ao longo dos tempos, opiniões pessoais, visões distintas da realidade e elementos religiosos, econômicos, étnicos e afins foram se sobrepondo nessas pelejas, quase sempre levando a altercações estéreis, acentuando rixas, provocando tragédias e afastando as pessoas — sem qualquer ganho civilizatório — e impedindo que valores e ideias relevantes, nutridos por ambos os lados em confronto, fossem avaliados, considerados, aperfeiçoados e aplicados. E, pior que isso, acrescento, fugindo completamente das essências histórica e semântica desses conceitos, depredando as oportunidades de evolução. Vamos lá. No final do século XVIII, na França, ocorreu um movimento conhecido como Revolução Francesa. Antes que as coisas piorassem ao ponto de custarem as cabeças guilhotinadas de mais de quinze mil pessoas, resolveu-se instalar o que ficou conhecido como Assembleia Nacional. Esse parlamento incluía representantes dos chamados “Três Estados” que compunham a sociedade francesa da época: o Primeiro, composto pelo clero; o Segundo, pela nobreza; e o Terceiro, que incluía os chamados burgueses (comerciantes, proprietários de terras e outros cidadãos economicamente abastados) e o povo comum (trabalhadores e camponeses). Evidente que os integrantes do “Terceiro Estado” (burguesia + povo) contavam-se em número maior, porém não gozavam da importância nem da influência dos demais. Além disso, as decisões daquele parlamento eram tomadas por voto de grupo, cada um dos três com “peso um”, o que fazia preponderar os interesses comuns (e somados) dos dois menores, porém mais poderosos, sobre aqueles defendidos pelo grupo mais numeroso, todavia menos relevante. Outro ponto relevante para a compreensão do contexto é que, mesmo composto por representantes ditos “do povo” (à época, todos os que não vinham da nobreza ou do clero), o Terceiro Estado abrigava uma diferença brutal entre a burguesia e os economicamente desfavorecidos — a mesma que hoje se observa entre o dono de uma fazenda e seu empregado, ou entre um banqueiro e o caixa de uma de suas agências. Como ocorre em todo universo humano multitudinário, depois de algum tempo de convívio, seus integrantes começam a se aglutinar em pequenos grupos, formados por aqueles mais parecidos entre si por diversos aspectos. E vários desses segmentos começam a desenvolver pautas específicas, algumas bastante diferentes das defendidas por outros originalmente análogos. Tome-se como exemplo o futebol: a massa torce em uníssono pela sua seleção nacional, contudo se fragmenta nos estádios quando disputam dois times da mesma cidade. Não foi diferente na Assembleia Nacional Francesa. Os representantes do “Estado do Povo” dividiram-se, inicialmente, em dois grupos. Um desses grupos, composto por deputados representantes da chamada alta burguesia (grandes latifundiários e comerciantes prósperos), recebeu o apelido de “Girondinos”, alusivo à região rica da Gironda, e defendia a manutenção da monarquia e seus privilégios, bem como bandeiras como o direito à propriedade privada, a economia de mercado e a meritocracia. O outro grupo, chamado “Jacobino” (alusão ao Convento de Saint-Jacques, em Paris, onde se reuniam), reunia pequenos comerciantes, artesãos, professores, gente do povo, enfim, e defendia a deposição da monarquia e de seus privilégios, iguais oportunidades, melhor distribuição de renda, entre outras bandeiras. Na distribuição das cadeiras do parlamento, os representantes da nobreza e do clero sentavam-se diante da mesa da presidência dos trabalhos. E, sabe-se lá por qual razão (eu, pelo menos, nunca soube), os Girondinos tomaram os assentos à direita, e os Jacobinos, à esquerda. A mera localização dos assentos na Assembleia — que poderia ter sido invertida — não significaria absolutamente nada na história ou na política, não fosse a radicalização dos discursos desses dois setores inicialmente análogos, quando comparados à origem e aos interesses dos membros dos grupos privilegiados, que se ocupavam exclusivamente de suas posses e posições. Porém, os Girondinos — interessados na manutenção do status quo que os privilegiava enquanto representantes da alta burguesia — passaram a negociar seu apoio às propostas do clero e da nobreza em troca de favores, indicações e proteção aos seus negócios. Por isso, começaram a ser conhecidos como “o pessoal da direita”. Já os Jacobinos, cada vez mais oprimidos em suas já pequenas perspectivas e condições econômicas, radicalizaram suas bandeiras, ao ponto de, anos depois, muito mais numerosos, tomarem o controle das coisas e enviarem mais de quinze mil concidadãos à guilhotina. Eles passaram a ser tratados como “aquele povo da esquerda”. Eis aí a origem dos rótulos “de direita” e “de esquerda”. No curso dos dois séculos que separam a Assembleia Nacional Francesa dos dias atuais, outros fatos e valores, frutos de movimentos religiosos, econômicos e filosóficos, foram sendo distribuídos entre esses dois “conceitos políticos antagônicos”. A exemplo do que fazemos quando arrumamos duas gavetas de um armário: numa colocamos apenas camisas brancas; na outra, as coloridas. Interessante é lembrar que, como se viu na formação do chamado “Terceiro Estado” francês — que agregava 95% da população não pertencente às castas privilegiadas — essas “camisas” possuem o mesmo formato e tecido, variando entre si em cor, detalhe ou condição de uso, mas continuam impressionantemente distintas dos mantos e batinas cravejadas com fios de ouro ostentados pelos inalcançáveis privilegiados. Por