Um ato contra a chamada PEC da Blindagem reuniu manifestantes, na tarde deste domingo, em frente à Assembleia Legislativa, em Vitória, como parte da mobilização coordenada nas capitais do país. O protesto começou às 15 horas e contou com a presença de lideranças políticas, representantes de entidades e movimentos sociais, artistas e cidadãos indignados com a proposta que busca restringir ações do Ministério Público e do Poder Judiciário contra parlamentares. No trio elétrico estacionado em frente à Assembleia, se manifestaram os deputados estaduais João Coser e Iriny Lopes, ambos do PT, a deputada federal Jackeline Rocha (PT-ES) e o senador Fabiano Contarato (PT), entre outras lideranças contrários ao teor da proposta. A PEC, que tramita no Congresso Nacional, tem sido alvo de intensas críticas por representar, segundo juristas, parlamentares e organizações da sociedade civil, um retrocesso no combate à corrupção e na responsabilização de agentes públicos. Diversas capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Salvador e Porto Alegre, também registraram protestos neste sábado, demonstrando que o repúdio à PEC transcende partidos e regiões. A mobilização segue com o objetivo de pressionar os parlamentares para rejeitarem qualquer medida que comprometa a transparência, a fiscalização e o equilíbrio entre os poderes.
João Gualberto – “Raízes do autoritarismo brasileiro”
As raízes do autoritarismo no Brasil ajudam a compreender como elites políticas e econômicas consolidaram um sistema de poder excludente e duradouro. O mundo vive hoje uma espécie de surto de autoritarismo, cujo personagem mais visível é Donald Trump, dos EUA. Esse fenômeno, porém, ocorre igualmente em outros países, como Itália, Polônia e Hungria, no continente europeu. Na verdade, o novo presidente dos Estados Unidos opera como uma espécie de cabeça desse gigantesco sistema de controle da economia mundial, conforme já fez no passado a União Soviética e outras nações que foram sede de impérios, como Inglaterra e França. Cada fase do mundo tem um modus operandi. A Alemanha do inicio do século, por exemplo, dominou com base nas armas e na destruição física; agora esse poder se dá por meio da asfixia financeira e de taxações exorbitantes. Cada momento da história produz um tipo de dominação entre as nações, assim como cada nação produz internamente as condições de sua adesão a esses sistemas. No caso brasileiro contemporâneo, o que temos visto é a construção de um autoritarismo interno que viabiliza a adesão muito rápida a um sistema internacionalizado. Mas nosso autoritarismo é particular, como são particulares os de cada nação do planeta. O que quero dizer é que cada sociedade faz, ao longo da história, as suas escolhas. São as classes dirigentes as grandes responsáveis por boa parte do que nos ocorre hoje, já que as decisões foram delas. No caso brasileiro, as raízes do nosso autoritarismo são muito profundas, pois nascem em um passado muito distante. Basta lembrar que tivemos um poder local construído a partir de elementos muito bem definidos. O primeiro desses elementos na construção do nosso sistema político foram as Câmaras de Vereadores. Nas Câmaras eram eleitos os chamados homens bons, os filhos de algo, os fidalgos. Não eram admitidos os que não tivessem o que chamavam, preconceituosamente, de sangue puro: indígenas, negros, judeus, filhos das pessoas comuns. É certo que não tivemos uma aristocracia clássica no Brasil, mas os vereadores municipais mandavam no município, podiam até mesmo decretar guerra aos indígenas. Cada cidade era uma espécie de república governada por essa instância importante, a câmara de vereadores. Era sobretudo com eles que a sede do reino se comunicava. Além de poderosos politicamente, esses homens públicos eram os senhores das terras da região, e por essa condição dispunham de bens materiais de forma favorecida, eram os ricos daqueles tempos. Os senhores da terra – os potentados rurais, como os chamou Raimundo Faoro em Os Donos do Poder – eram também os que detinham a posse dos escravizados, que em muitos momentos constituíram-se de indígenas e também de africanos. Os proprietários de outros seres humanos podiam deles dispor como bem entendessem. Eram os senhores de suas vidas e de suas mortes. Podiam usar a seu bel prazer dessa mão de obra, que era também sujeita a todos os seus desejos. Outro elo importante para construir esse poder local centralizado em poucos potentados foi a militarização da sociedade brasileira. As cortes portuguesas não tinham condições materiais concretas de manter a segurança e a ordem que lhes interessava em todo o território brasileiro. Assim, atribuíam patentes aos senhores do campo de suas organizações militares criadas para esse fim. Desse modo, ficava enfeixada em um só individuo a patente militar, a propriedade de pessoas das quais ele podia dispor como melhor lhes conviesse, incluindo-se, obviamente, a violência, e ainda o poder material, com a propriedade de terras e cargos públicos. O sistema político brasileiro transformou esses poucos homens poderosos no epicentro do poder político, econômico e militar. Nossa origem política é essa, Foram esses personagens que se transformaram nos coronéis republicanos e que instituíram o sistema político que nos governa até hoje. Não é, pois, de se admirar que parte importante de nossas elites políticas atuais banhe-se nas águas de um oceano autoritário. Eles foram instituídos assim, suas raízes históricas estão solidamente vincadas em um mundo onde o desprezo pelo povo, pelo popular, pela gente da terra é enorme. Não podemos nos esquecer do papel da religião nesse processo, mas trataremos melhor disso em outro artigo. O reacionário brasileiro nasce assim na história, vem de muito longe e domina os códigos de controle das massas. Por isso somos essa sociedade profundamente hierarquizada, desigual e elitista. A nossa extrema direita atual nos é própria, vem de tempos remotos e, mesmo que se articule de forma global, é o retrato do atraso no Brasil. Há, pois, esse perfil histórico que explica a existência da direita atual em nosso país, com seus modos próprios – e condenáveis – de agir. *João Gualberto Vasconcellos é mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura. Foi secretário de Cultura no Espírito Santo entre 2015 e 2018. *A opinião do articulista é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a posição do portal News Espírito Santo
Ilha da Trindade recebe força-tarefa para recolher lixo trazido pelo mar
Uma grande força-tarefa envolvendo militares, pesquisadores e voluntários desembarcou nesta semana na Ilha da Trindade, a mais de mil quilômetros da costa do Espírito Santo, para mais uma missão de combate à poluição marinha. A ação tem como objetivo recolher os resíduos — principalmente plásticos — que chegam até as praias da ilha trazidos pelas correntes oceânicas. A operação faz parte de um esforço conjunto que já dura três anos e reúne o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), a Marinha do Brasil e outros parceiros. Segundo a botânica Márcia Rogério, integrante do instituto Onda Ilhas Oceânicas, e uma das responsáveis pela organização da missão, o lixo recolhido na ilha não é produzido no local. “Todo resíduo gerado na ilha é gerenciado pela Marinha e levado de volta ao continente para o destino correto. O que a gente encontra nas praias é o que vem com as correntes marinhas. E são muitos plásticos”, afirmou Márcia, em entrevista ao jornalista Emerson Cabral, transmitida ao vivo pela TV Gazeta. A ação é marcada pelo engajamento coletivo: mais de 30 militares da Marinha, pesquisadores de diferentes projetos e voluntários participaram da atividade, demonstrando envolvimento e entusiasmo com a causa ambiental. “É um trabalho importante para a preservação da fauna marinha. Muitas vezes encontramos aves marinhas mortas nas praias por causa do plástico ingerido. É triste, mas reforça ainda mais a urgência dessa mobilização”, destacou a pesquisadora. A missão ecológica, que integra o projeto Trindade Sem Lixo, também contribui para a pesquisa científica e monitoramento ambiental na região, considerada um dos maiores santuários ecológicos do país. Imagens: Zoom Filmes / Secundo Rezende
Capixaba Luna Hardman conquista a etapa do Circuito Mundial de Bodyboard no ES
A praia do Solemar, em Jacaraípe, foi palco de muita emoção neste sábado (20), com o encerramento do ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro 2025, apresentado por Extrabom. Em um desfecho histórico, a capixaba Luna Hardman, de 19 anos, conquistou pela primeira vez o título de uma etapa do Circuito Mundial na categoria Profissional. Já a gaúcha Joselani Amorim, de 52 anos, celebrou o título inédito de campeã mundial na categoria Máster. Na Pro Júnior, a portuguesa Alice Teotônio sagrou-se campeã do mundo. O evento foi decisivo para o encerramento do Circuito Mundial 2025, com a definição dos títulos mundiais das categorias Profissional, Máster e Pro Júnior — essas duas últimas exclusivas da etapa brasileira. A austríaca Alexandra Rinder, representando as Ilhas Canárias, já havia garantido o título da Profissional ao vencer nas quartas de final, na quarta-feira (17). O vice-campeonato mundial ficou com a japonesa Namika Yamashita. Emoção em dose dupla: mãe e filha no pódio Após retornar de uma cirurgia nos ombros, Luna (foto) superou Joselani na final da Profissional com 14.75 pontos. A conquista foi celebrada com lágrimas e abraços na areia com sua mãe, a pentacampeã mundial Neymara Carvalho, idealizadora do evento. As duas subiram juntas ao pódio: Luna como campeã da etapa e Neymara como terceira colocada. “É a conquista de um sonho. Voltei forte e só tenho a agradecer por todas as mensagens durante minha recuperação. Surfava leve, feliz, por estar de volta. Se Deus quiser, é a primeira de muitas”, disse Luna, emocionada. Neymara também não conteve as lágrimas: “É a certeza de que fiz um bom trabalho como mãe e atleta. Gere uma campeã. Disse que ela ia ganhar e não acreditei. O trabalho psicológico fez diferença. Estou vivendo o extraordinário.” Joselani Amorim: duas finais e um sonho realizado Joselani (foto) brilhou duplamente na etapa. Após vencer a final da categoria Máster contra a capixaba Maylla Venturin por 10.25 a 9.50, foi à final da Profissional contra Luna. Ao todo, disputou quatro baterias no último dia. “Comecei no bodyboarding aos 14 anos, hoje tenho 52. Vim para me divertir, e realizei um sonho. Compartilhar esse título com minha mãe e minha filha é indescritível”, disse Joselani, que dedicou a vitória ao Rio Grande do Sul, que celebrava o Dia do Gaúcho. Ela também agradeceu Neymara: “Eu não viria. Ela me ligou e insistiu. E aqui estou, campeã mundial.” Pro Júnior: Portugal no topo Na disputa final entre portuguesas, Alice Teotônio (foto) venceu Luana Dourado por 14.50 a 13.50, garantindo o título mundial da Pro Júnior. Luana, vice pelo segundo ano consecutivo, foi destaque da competição com as duas únicas notas 10 do evento. O pódio foi completado por Maria Padrela (Portugal) e Hannah Saavedra (Peru). “Estou muito feliz. Campeã de 2025! Obrigada a todos que torceram por mim, minha família e amigas”, celebrou Alice, enrolada na bandeira de Portugal. Baterias marcadas por emoção O sábado começou com Joselani (foto) vencendo Nicolle Calheiros (RJ) nas semifinais da Máster. Em seguida, Maylla superou a portuguesa Catarina Sousa, garantindo uma final brasileira. Na Profissional, Joselani derrotou Neymara, enquanto Luna virou a bateria contra Filipa Broeiro (Portugal) com nota 8.75, garantindo a vaga na final. Categoria especial: mães e filhas encerram o evento O Wahine terminou em clima de confraternização com a tradicional bateria de mães e filhas. Participaram Catarina Sousa e Concha Miranda, Naara Caroline e Maria Cecília, Aline Martins e Liz, e Joselani com sua filha Luiza. Espírito Santo, centro do bodyboarding mundial Durante 10 dias, o Espírito Santo recebeu atletas de 10 países: Brasil, Áustria, Chile, Espanha, EUA, França, Japão, Marrocos, Peru e Portugal. A premiação total foi de 45 mil dólares (cerca de R$ 240 mil). Sobre o Wahine Criado em 2021 por Neymara Carvalho, o ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro homenageia as mulheres do esporte. “Wahine” significa “mulher” em havaiano, em referência à conexão com os povos das ilhas do Pacífico. A temporada 2025 do Circuito Mundial Feminino teve quatro etapas: Agadir (Marrocos), Iquique (Chile), Sintra (Portugal) e Solemar (Brasil), com premiação total de 220 mil dólares. Realização O evento teve patrocínio principal da ArcelorMittal, patrocínio máster do Governo do Estado do Espírito Santo por meio da LIEC, patrocínio da EDP Brasil, apoio do Grupo Coroa, Jaklayne Joias e Prefeitura da Serra. A realização foi do Instituto Neymara Carvalho (INC) e da International Bodyboarding Corporation (IBC), com homologação da Confederação Brasileira de Bodyboarding.