Palestra aberta ao público será realizada no Palácio Anchieta, em Vitória A Rede Abraço comemora 12 anos de atuação no Espírito Santo com um evento especial nesta quinta-feira (27), às 13h30, no Palácio Anchieta, em Vitória. A programação contará com a presença da Monja Coen Roshi, referência nacional em espiritualidade, bem-estar e práticas de atenção plena. A líder zen-budista será a conferencista magna da solenidade, com a palestra “Escutar com o Coração: uma Ética do Cuidado na Sociedade do Sofrimento”, que abordará temas como escuta compassiva, ética em contextos de sofrimento coletivo e a importância de políticas públicas voltadas ao cuidado e ao acolhimento. Também participam do evento o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande; o vice-governador, Ricardo Ferraço; a secretária de Estado do Governo, Maria Emanuela Alves Pedroso; e o subsecretário de Políticas sobre Drogas, Carlos Lopes. Para Carlos Lopes, coordenador do Programa Rede Abraço, o momento marca a consolidação de uma política pública construída ao longo de mais de uma década. “Celebrar 12 anos da Rede Abraço é reconhecer a construção de uma rede de cuidado robusta e necessária. Temos trabalhado para manter uma política pública estruturada, séria e baseada em evidências científicas. Receber a Monja Coen nesse momento especial simboliza nosso compromisso contínuo com um futuro mais acolhedor e orientado para a saúde integral”, afirma. Sobre a Rede Abraço Criada em 2013 e reformulada em 2019, a Rede Abraço é uma política pública estadual voltada ao atendimento de pessoas e famílias afetadas pelo uso abusivo de álcool e outras drogas. A atuação envolve prevenção, cuidado e tratamento, reinserção social e produção de estudos e pesquisas sobre drogas no Espírito Santo. Ao completar 12 anos, o programa ultrapassa a marca de 23 mil cidadãos atendidos e mais de 125 mil atendimentos realizados. Serviço Data: 27/11 (quinta-feira) Horário: 13h30 Local: Sala São Tiago, Palácio Anchieta — Praça João Clímaco, s/n, Centro, Vitória Acesso: Evento gratuito, sem necessidade de inscrição Informações à imprensa: Assessoria de Imprensa da Rede Abraço Thiago Almeida (27) 3636-6229 / 99780-3017 thiago.jesus@seg.es.gov.br
Endividamento recorde acende alerta e reforça necessidade de planejar finanças
O percentual de famílias endividadas no Brasil alcançou 79,5% em outubro, o maior índice já registrado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O dado marca o terceiro mês consecutivo de alta em 2025 e evidencia o avanço simultâneo do endividamento, da inadimplência e da percepção de insuficiência financeira entre os consumidores. Segundo a CNC, o comportamento desses indicadores aponta para um cenário de deterioração da saúde financeira das famílias, exigindo atenção imediata e medidas de reorganização, especialmente no controle de gastos. Para Cecília Perini, sócia e líder da XP, o ponto de partida para evitar o agravamento da situação está em ações simples do dia a dia. Ela destaca que o fim do ano, apesar de ser um período de celebrações, também funciona como um momento de avaliação. “É fundamental realizar uma análise detalhada para identificar as causas-raiz desse desequilíbrio”, afirma. Cecília ressalta que o processo deve envolver toda a família. Conversas sobre dinheiro, segundo ela, não precisam ser difíceis — e podem ajudar a criar uma relação mais saudável com as finanças. “São nas conversas simples sobre o preço das coisas, o valor do trabalho e o significado de guardar parte do que se ganha que se formam hábitos duradouros e uma mentalidade de longo prazo”, observa. Com a chegada do 13º salário, trabalhadores celetistas têm a chance de ajustar o orçamento ou iniciar uma reserva financeira. A orientação é priorizar o pagamento de dívidas, reforçar a reserva de emergência e considerar investimentos compatíveis com o momento financeiro de cada pessoa — sempre evitando o consumo impulsivo. Novos planos para 2026 Diante das oscilações econômicas dos últimos anos, Cecília reforça a importância da disciplina para construção de um colchão financeiro que ofereça segurança diante de imprevistos. Para ela, iniciar 2026 com novos compromissos de organização financeira é essencial. A líder da XP destaca a relevância de diversificar investimentos e buscar ativos que gerem renda passiva como forma de garantir maior estabilidade ao longo do tempo. “O novo ano pode ser a oportunidade ideal para revisar e ajustar planos financeiros, com foco na diversificação e na geração de renda passiva, garantindo maior tranquilidade e liberdade ao longo da vida”, afirma.
Flamengo promove ações para fortalecer o futebol feminino no ES
Programação inclui curso de formação para treinadores e torneios Sub-13, Sub-15 e Sub-17 entre 27 e 30 de novembro, com participação gratuita Entre os dias 27 e 30 de novembro, a Comissão Técnica do Time Feminino do Flamengo/RJ estará no Espírito Santo para realizar uma série de ações voltadas à capacitação e ao fortalecimento do futebol feminino no estado. A iniciativa é realizada em parceria com a Estação Conhecimento Serra e a Secretaria de Esportes e Lazer do Espírito Santo (Sesport). A programação contempla um curso de formação para treinadores, aberto a acadêmicos, profissionais e interessados no desenvolvimento do futebol feminino, além de torneios de futebol society nas categorias Sub-13, Sub-15 e Sub-17. Todas as atividades são gratuitas. Esta é a segunda etapa de ações do Flamengo em 2025 no Espírito Santo, dentro do projeto de desenvolvimento do futebol feminino no Estado. A iniciativa tem patrocínio da Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Formação de treinadores e competições de base O cronograma terá início no dia 27 de novembro, com o Módulo 1 da Formação de Treinadores, das 13h30 às 19h, no auditório da Sesport, em Vitória. O Módulo 2 será realizado no dia 28, das 8h às 17h, na Estação Conhecimento Serra, e é exclusivo para os participantes que concluírem o primeiro módulo. Nos dias 29 e 30 de novembro, também na Estação Conhecimento Serra, acontecem os torneios de futebol society feminino, das 8h às 15h, reunindo equipes das categorias Sub-13, Sub-15 e Sub-17. “Mais oportunidades para meninas e mulheres no esporte” A diretora da Estação Conhecimento Serra, Ana Angélica Motta, destaca que a formação e os torneios têm como foco ampliar as oportunidades dentro do futebol feminino no Estado. “O objetivo é compartilhar conhecimentos, trocar experiências e promover o desenvolvimento técnico e estrutural do futebol feminino, incentivando a criação de novas equipes, a formação de talentos e o fortalecimento das redes de apoio ao esporte feminino”, afirma. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas nos links abaixo. CRONOGRAMA DE AÇÕES CURSO DE FORMAÇÃO DE TREINADORES DE FUTEBOL FEMININO – MÓDULO 1 Data: 27 de novembro (quinta-feira) Horário: 13h30 às 19h Local: Auditório da Sesport – Rua Coronel Schwab Filho, s/n, Bento Ferreira, Vitória (ES) Inscrições: https://forms.gle/Mdd7ZDMr1pMF46jn7 MÓDULO 2 – exclusivo para participantes do Módulo 1 Data: 28 de novembro (sexta-feira) Horário: 8h às 17h Local: Estação Conhecimento Serra – Av. Meridional, s/n, Cidade Continental – Setor Europa, Serra (ES) Inscrições: https://forms.gle/2gzFZVpXPLnZ5QCGA Vagas: gratuitas e limitadas a 120 participantes TORNEIO DE FUTEBOL SOCIETY FEMININO – SUB-13, SUB-15 E SUB-17 Data: 29 e 30 de novembro (sábado e domingo) Horário: 8h às 15h Local: Estação Conhecimento Serra – Av. Meridional, s/n, Cidade Continental – Setor Europa, Serra (ES) Inscrições: https://forms.gle/3rUB2uNEe6rbcKaR7 Realização: Clube de Regatas do Flamengo, com patrocínio da Vale, via Lei Federal de Incentivo ao Esporte SOBRE A ESTAÇÃO CONHECIMENTO SERRA Mantida pela Fundação Vale, a Estação Conhecimento Serra é uma OSCIP que atua desde 2011 na promoção dos direitos de crianças e adolescentes, em parceria com a Vale e a Prefeitura da Serra. A instituição atende mais de 1.600 beneficiários diretos, oferecendo oportunidades socioeducacionais, fortalecendo redes comunitárias e contribuindo para a redução de vulnerabilidades sociais. MAIS INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA Assessoria de Comunicação – Vale Carla Nascimento Tel.: (27) 99312-8848 Av. Dante Michelini, 5500, Camburi – Vitória, ES www.vale.com/saladeimprensa www.vale.com/newsroom Assessoria de Imprensa – Estação Conhecimento Serra José Roberto Santos Neves (27) 99972-8028 neves-jose@uol.com.br joserobertosantosneves@gmail.com
Theatro Carlos Gomes reabre após restauro e inicia nova fase da programação cultural
Após dois anos de obras de restauro e readequação, o Theatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória, reabriu ao público neste sábado (22). Inaugurado em janeiro de 1927 e inspirado no Teatro Alla Scala de Milão, o prédio projetado pelo arquiteto autodidata André Carloni passou por uma intervenção completa que recuperou características históricas e modernizou instalações para receber a programação cultural dos próximos anos. A reabertura ocorreu com apresentação da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES) e participação do cantor capixaba Silva, atração nacional da música popular brasileira. As performances aconteceram na Praça Costa Pereira, enquanto o interior do teatro ficou aberto para visitação. O público também acompanhou uma intervenção da artista Flávia Junqueira no espaço restaurado. Durante o evento, o governador Renato Casagrande anunciou as próximas etapas da retomada do Carlos Gomes, incluindo a temporada especial de reinauguração, com agenda confirmada entre dezembro e março de 2026. Ele também informou que o edital de concessão para a cafeteria do teatro será publicado nas próximas semanas e que o espaço terá visitas mediadas duas vezes por semana, em diversos horários. As obras foram conduzidas pelo Instituto Modus Vivendi por meio de acordo de cooperação entre o Governo do Estado, via Secretaria da Cultura (Secult), dentro da iniciativa Resgatando a História, com recursos do BNDES e da EDP por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O investimento totalizou R$ 20 milhões — metade proveniente do BNDES e metade da EDP. Em seu pronunciamento, Casagrande destacou o simbolismo da entrega. “Noventa e nove anos depois de sua inauguração, estamos reinaugurando o Theatro Carlos Gomes totalmente restaurado. Este é um equipamento importantíssimo para a cultura do nosso Estado. Resgatamos um espaço que sempre foi o centro cultural do Espírito Santo”, afirmou. O secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha, reforçou a relevância da obra para o setor cultural capixaba. “A entrega representa a recuperação de um patrimônio arquitetônico e afetivo e reafirma o compromisso do Governo do Estado com a memória e a criação artística. Cada detalhe restaurado devolve parte da nossa identidade e da trajetória cultural que molda quem somos”, disse. O Theatro Carlos Gomes volta a abrir as portas para grandes espetáculos, shows e eventos, preservando referências históricas e estruturais. Entre as modernizações realizadas estão elevadores para a orquestra e para o público, climatização atualizada, banheiros acessíveis, novo sistema de iluminação e sonorização, além da reinstalação da cafeteria com vista para a Praça Costa Pereira. O processo de restauro também trouxe à tona elementos originais da arquitetura, como douramentos em folhas de ouro, técnicas de fingimento em colunas, a pintura de Homero Massena no teto e a cor camurça da fachada, identificada por prospecção estratigráfica como a tonalidade mais antiga do edifício. O lustre central e os ornamentos históricos foram recuperados, assim como a antiga bilheteria. Entre as melhorias internas, o teatro recebeu novas luminárias, restauro de lustres, renovação do mobiliário histórico e instalação da cortina corta-fogo. Na área técnica e administrativa, novos espaços foram criados para apoiar as atividades artísticas. O projeto também modernizou o sistema cênico, com varas mecanizadas e novos elementos de palco. Na fachada, as esculturas que compõem o conjunto arquitetônico — incluindo a figura de Apolo, símbolos da música, letras, pintura e escultura, além do busto de Carlos Gomes — passaram por limpeza e recomposição. Com a conclusão da obra, o Theatro Carlos Gomes retoma seu papel como um dos principais equipamentos culturais do Espírito Santo, unindo preservação do patrimônio histórico e atualização estrutural para a nova fase de uso público. Foto: Governo ES
Luiz Paulo Vellozo Lucas – “Tarifas e fuzis”
A operação militar das polícias do Rio de Janeiro no complexo de favelas do Alemão e da Penha, que produziu 121 mortos, esquentou e redefiniu o debate político no país. O apoio maciço da opinião pública à operação policial, marca definitivamente o fim da paciência da população brasileira com a falta de uma estratégia nacional crível para a segurança pública, para o combate a violência e a criminalidade no Brasil. Narcoterroristas, mafiosos ou simplesmente bandidos/criminosos, eles precisam ser combatidos com todas as forças. Ninguém discorda disto. Apesar do drama humano das mortes, do inusitado combate na mata que levou a coluna do BOPE à vitória sobre os soldados do Comando Vermelho e ao sucesso militar da operação, o Brasil segue perdendo esta guerra e pior, continua sem rumo. No Congresso Nacional, a tramitação do PL AntiFacção foi capturado pela disputa política a começar pela indicação do relator na o deputado Guilherme Derrite, estrela do governo Tarcísio de Freitas, responsável por liderar a segurança pública em São Paulo. A luta pelo controle dos fundos orçamentários destinados à segurança pública entre a União e os estados, pela autonomia das policias estaduais e pelo nível de autoridade e de comando da esfera federal sobre as corporações policiais e judiciárias estaduais, preside de fato a disputa principal. O desafio de fazer as instituições nacionais e subnacionais funcionarem articuladas em cooperação é a dificuldade real, muito maior que os conflitos de ideologias. Enquanto não tivermos pactuado e implantado um SUSP – Sistema Único de Segurança Pública, o crime continuará ganhando o jogo de goleada. A vulnerabilidade socioeconômica territorial pode ser traduzida pelo tamanho da disparidade entre a rentabilidade das atividades econômicas ilegais e criminosas, que precisam da violência para impor ordem e cumprimento de contratos, das atividades legais reguladas pela lei e pelas instituições do Estado. Nas favelas e na Amazônia essa disparidade de rentabilidades é enorme e faz crescer brutalmente a criminalidade. Alguns estudos sugerem que a partir de uma certa disparidade de rentabilidades não é possível derrotar militarmente o crime. Descobrir como derrotar militarmente o crime é certamente uma questão fundamental. Equipamento de combate adequado, fuzis, drones e efetivo treinado importam. Inteligência e informação precisas são decisivas. Arcabouço legal para seguir o dinheiro ilegal e descobrir lavanderias financeiras, desmontá-las e prender seus operadores também. Quero, no entanto, trazer neste artigo uma proposta que apresentei na última campanha eleitoral para prefeito em Vitória que pode reduzir as disparidades entre a rentabilidade do crime e das atividades legais nos territórios econômicos urbanos vulneráveis: as favelas. Os serviços urbanos básicos, começando com o saneamento, fornecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgotos, drenagem pluvial, coleta e destinação de resíduos sólidos, fornecimento de energia elétrica e serviços de telecomunicações com internet, possuem marcos regulatórios setoriais independentes. Energia e telecomunicações são concessões federais e o saneamento obedece ao mesmo tempo a um ordenamento jurídico nacional e também local. Autorizar a criação de consórcios entre as concessionárias para oferecer serviços urbanos de maneira integrada, com uma tarifa social unificada, permitiria a melhoria dos serviços, a redução dos “gatos” e da inadimplência, além de dificultar a presença do crime nestes negócios. A prefeitura poderia se integrar ao consórcio, tirando da informalidade o mercado imobiliário das favelas e da baixa renda, disciplinando o uso e ocupação do solo de maneira compatível com os territórios ocupados de forma desordenada. De acordo com o censo de 2022 do IBGE, o Brasil possui 12.348 favelas ou comunidades urbanas, correspondendo a 8,1% da população. Evidentemente, nem todas são ocupadas territorialmente pelo crime organizado como nos complexos cariocas do Alemão e da Penha. Criar consórcios de serviços urbanos com uma tarifa social unificada pode ser uma inovação institucional que permita recolocar o urbanismo social, os projetos integrados de desenvolvimento territorial em áreas de vulnerabilidade, no mapa das políticas públicas prioritárias. Combater as desigualdades territoriais e a pobreza urbana também é fundamental para o combate à criminalidade e à violência. O Projeto Terra desenvolvido em Vitória entre 1997 e 2004 partiu do mapeamento das ocupações desordenadas delimitadas em 15 poligonais. Foi considerado um projeto de urbanismo social exemplar, inclusive sendo premiado pela ONU-Habitat com o diploma de Excellence Award em 2002. Uma retomada do Projeto Terra a partir da introdução da Tarifa Social Integrada poderia ser um piloto para o Brasil nesta nova etapa da luta contra as desigualdades e contra o crime. O Brasil tem conserto. O Espírito Santo é um bom exemplo. *Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de produção e professor universitário. Mestrado em desenvolvimento sustentável. Foi prefeito de Vitória-ES e deputado federal pelo PSDB-ES. Membro da ABQ-Academia Brasileira da Qualidade.
João Gualberto – “Identidade capixaba”
Reflexão propõe uma releitura da história capixaba e destaca o orgulho de pertencer a esse território. A ideia central, quando se trata de investigar a identidade regional de um fragmento territorial e cultural da sociedade brasileira, é traçar a trajetória histórica de sua construção imaginária, e construí-la, na maioria das vezes, segundo um olhar determinado. Isso parte do processo de pensar como se articularam ao longo do tempo os elementos históricos. Inclui também, e sobretudo, analisar como eles formam um conjunto e ainda o modo como suas várias faces reunidas em um todo se conectam e se fazem representar uma na outra. Um elemento importante que dá densidade a esse conjunto é a ideia de construção do futuro. Afirmo isso porque, como a identidade está sempre em construção, ou é algo que queremos ser, ela faz parte do que já somos. Quando pensamos a questão da identidade em termos individuais, podemos perceber essa ideia com mais facilidade. Uma pessoa não é apenas um resto do seu passado, um pedaço daquilo que se construiu no tempo. É também o que quer fazer desse passado, como o interpreta e o ressignifica, como se reinventa a partir dele. Quase tudo pode ser considerado aprendizado ou mágoa, depende de como interpretamos os fatos. Assim, o que desejamos como sociedade também é parte da nossa identidade e dá o tom de como sentimos a presença do passado, que é reinterpretado à luz desse desejo. Dizem até que a coisa que mais muda no mundo é o passado – uma brincadeira que não deixa de esconder certa verdade. Para me ater a um exemplo de releitura recente, existem obras no mercado que pintam um Napoleão de direita, forte e autoritário, e outras que o apresentam como de esquerda, produto da revolução que acabou por conduzi-lo ao poder. Quero com isso dizer que identidade também é escolha. É o processo de retirar de todos os elementos que nos compõem aqueles que melhor expressam nosso desejo em certo momento histórico. Identidade tem a ver, então, com nossas escolhas mediante o que nos aconteceu e o que pretendemos fazer com isso. Tais observações me ocorreram quando comecei a pensar naquilo que poderíamos chamar de identidade capixaba ou mesmo de construção do nosso imaginário. Nele existe o mito da muralha verde que nos separou das Minas Gerais durante o período colonial. Primeiramente, é fato que o ouro das Minas despertava a cobiça de piratas e invasores estrangeiros, portanto não se facilitaria o acesso a elas. Mas também é verdade que o período do auge do ouro durou cerca de um século. Criar dificuldade de acesso, portanto, não poderia simplesmente explicar o que aconteceu em terras capixabas durante dessa longa fase. Por outro lado, é comum lermos nos nossos livros de história, bem como em outras narrativas sobre nosso passado, que sofremos um marasmo colonial, que não prosperamos em relação às outras regiões brasileiras. Esse discurso foi muito usado no início da república para explicar uma certa aversão ao período monárquico e, assim, valorizar os ideais de progresso da jovem república. Mas, de fato, nada houve de especial no Espírito Santo em relação ao que acontecia no restante do país. Chamar de marasmo a chegada do café, que mudaria a face do nosso estado; o ingresso massivo de colonos europeus; o fim do regime escravocrata é mesmo muita má vontade com o império. Só isso. Enfim, parece que escolhemos fragmentos bem negativos de nossa história para construir um lugar no Brasil e no mundo. A grande questão, portanto, não é a história em si, mas sim a maneira como nos apropriamos dela. Posso afirmar que somos um estado empreendedor, que no final do século XIX já era um dos grandes produtores nacionais de café; que nossas elites republicanas tinham formação idêntica às de São Paulo, Minas ou Rio de Janeiro – para ficar apenas na região Sudeste; que os imigrantes europeus do século XIX, no Espírito Santo, progrediram tanto quanto os que aportaram em outros estados. Enfim, sob a lente do empreendedorismo, podemos enxergar um estado que esquece e supera as narrativas reducionistas da barreira verde e do marasmo colonial. É uma questão de escolha, de criar uma narrativa que organize e articule os fragmentos que a história nos apresenta. O que precisamos, no Espírito Santo, é focar nos fatos que nos aproximem de um sentimento verdadeiro e forte sobre a nossa história, que nos façam acentuar o pertencimento a este território, ter orgulho dos que nos antecederam e deixaram essas marcas fortes, das quais devemos ter muito orgulho. Acho que já está na hora. *João Gualberto Vasconcellos é mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura. Foi secretário de Cultura no Espírito Santo entre 2015 e 2018. *A opinião do articulista é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a posição do portal News Espírito Santo