Amamentar é um dos momentos mais marcantes da maternidade. Mas quando o câncer de mama surge antes da chegada do bebê, muitas mulheres se perguntam: será que ainda é possível viver essa experiência?
No Agosto Dourado, mês de valorização do aleitamento materno, a oncologista Alyssa Miranda, da São Bernardo Samp, esclarece: em muitos casos, sim, é possível amamentar com segurança mesmo após o câncer.
“A amamentação não aumenta o risco de recidiva da doença. Pelo contrário, há estudos mostrando que pode até trazer um efeito protetor a longo prazo contra novos tumores”, afirma a médica.
Segundo a especialista, a possibilidade depende do tipo de tratamento realizado. Mulheres que passaram por mastectomia não terão produção de leite naquela mama, mas, em cirurgias conservadoras, a capacidade pode ser parcial. A radioterapia também pode comprometer a função da mama tratada.
Ainda assim, há boas notícias: “A produção de leite ocorre de forma independente em cada mama. Muitas mulheres conseguem amamentar exclusivamente apenas com a mama preservada, desde que tenham orientação adequada”, explica Alyssa.
Outro ponto de atenção é o uso de medicamentos. O tamoxifeno, por exemplo, é contraindicado durante a lactação porque passa para o leite e pode trazer riscos ao bebê. Por isso, a orientação é que cada paciente converse com seu médico antes de planejar uma gestação ou iniciar o aleitamento.
Gravidez após o tratamento
Os especialistas recomendam aguardar pelo menos dois anos após o término da terapia oncológica antes de engravidar, período considerado de maior risco de recidiva. Para mulheres em hormonioterapia, como o uso do tamoxifeno, a indicação é completar todo o ciclo (de 5 a 10 anos).
“Já existem pesquisas que mostram que é possível pausar temporariamente a hormonioterapia após pelo menos 18 a 24 meses de uso, engravidar e depois retomá-la com segurança”, pondera a oncologista.
Benefícios também para a mãe
Além de essencial para o desenvolvimento do bebê, a amamentação traz ganhos importantes para a saúde da mulher. Estudos mostram que cada 12 meses de aleitamento cumulativo ao longo da vida reduzem em até 7% o risco de desenvolver câncer de mama.
“Durante a amamentação, há uma redução nos níveis de estrogênio devido à supressão da ovulação. Como a exposição prolongada ao estrogênio está associada ao aumento do risco de câncer de mama, amamentar contribui para diminuir esse impacto hormonal. A amamentação não só nutre o bebê, mas também representa um cuidado preventivo com a saúde da mãe. No caso das mulheres que já tiveram câncer, quando é possível e indicado, representa uma vitória dupla”, conclui Alyssa Miranda.