O bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, fez um apelo direto aos homens para que se posicionem contra a violência doméstica e de gênero. A mensagem foi divulgada em carta pastoral dirigida exclusivamente ao público masculino das comunidades católicas do sul do Espírito Santo. O documento reforça que a violência contra a mulher é uma “ferida moral, espiritual e humana” que atinge famílias inteiras e “clama aos Céus”.
Dom Luiz destaca que, apesar de avanços recentes, os números registrados no Espírito Santo ainda revelam um cenário alarmante. Segundo ele, em 2024, foram contabilizados 15.954 atendimentos por violência contra a mulher no canal Ligue 180, um aumento de 44% em relação ao ano anterior. O bispo também cita 2.670 denúncias formais e o fato de que 41% dos homicídios de mulheres no Estado foram classificadas como feminicídios. “Mas números não consolam. Por trás de cada um há uma mulher com nome, rosto e história”, afirmou.
Na carta, o bispo critica modelos de masculinidade baseados em poder, dominação e agressividade. Ele afirma que comportamentos violentos negam valores cristãos fundamentais. “Um estilo de masculinidade que gera medo não é cristão. Um homem que levanta a mão para ferir uma mulher nega o batismo que recebeu”, escreve. Dom Luiz também menciona que a violência pode ser física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial, e que nenhuma delas é compatível com o Evangelho.
O bispo convoca especialmente os homens atuantes nas comunidades — participantes de pastorais, grupos de oração e do Terço dos Homens — a assumirem o protagonismo no enfrentamento às agressões. Ele pede que conversem, aconselhem e orientem outros homens que apresentem comportamentos violentos. “O amor ao Evangelho não nos permite neutralidade. Uma conversa pode salvar vidas”, reforça.
Além disso, Dom Luiz orienta sobre como agir diante de casos suspeitos ou confirmados: entrar em contato com os serviços oficiais de denúncia e proteção, garantir acolhimento e apoio à vítima e promover ambientes seguros e de diálogo. O bispo propõe que toda a Diocese implemente iniciativas permanentes, como grupos de enfrentamento à violência, formações específicas para acolhimento e um Mês da Proteção da Mulher.
Por fim, o bispo lembra que crianças que convivem com a violência doméstica também são vítimas e carregam traumas para toda a vida, defendendo que proteger a mulher é proteger toda a família. Ele encerra pedindo que São José sirva de referência de amor e cuidado, e que o Espírito Santo “converta os corações endurecidos”, guiando os homens para uma masculinidade pautada no serviço, na paz e no respeito à dignidade de cada mulher.
