Braga, Portugal – Num mundo onde pouco parece restar para explorar, o geógrafo Sérgio Rondelli e o empresário Rodrigo Pimenta provaram o contrário. Em uma jornada de quase uma semana, a dupla de amigos e amantes do trekking percorreu a pé mais de 100 quilómetros do bravio e pouco conhecido litoral norte de Portugal, da cidade de Caminha até à foz do Rio Douro, no Porto.
Batizada de “Caminho de Portugal”, a expedição teve como objetivo realizar um levantamento antropológico, geomorfológico e da fauna e flora da região.
A aventura começou em Caminha, um nome mais do que sugestivo, e desenrolou-se por um cenário de diversidade impressionante. Os aventureiros enfrentaram longas praias de areia fina e pesada, que tornavam cada passo um desafio, praias rochosas e de seixos arredondados, dunas fossilizadas, falésias, matas cerradas e restingas traiçoeiras. Tudo sob um clima outonal que, mesmo propício, não poupou os rigores do sol, do vento e da humidade salina — e perante um oceano de águas azuis e gélidas, por vezes de uma violência sublime.

Mais do que uma simples caminhada, a expedição foi um laboratório a céu aberto. A dupla atravessou um mosaico complexo de Unidades de Conservação — parques naturais e áreas protegidas nacionais, regionais e municipais —, documentando a riqueza da vida silvestre e os processos de erosão costeira, onde observaram as medidas de contenção, como os enormes cilindros de areia que se erguem como sentinelas contra as marés.
Um dos aspetos mais curiosos da rota foi o seu sentido inverso ao tradicional Caminho de Santiago de Compostela. Enquanto centenas de peregrinos rumavam a norte, Rondelli e Pimenta seguiam firmes para sul, um percurso que causava estranheza e curiosidade nos poucos que cruzavam com eles. Este “caminho inverso” permitiu um diálogo único com os moradores locais, de quem colheram saberes profundos sobre as mutações da paisagem e a história da região.


As belas paisagens pelo caminho
A logística foi um capítulo à parte na epopeia. Cientes de que o peso é o maior inimigo do caminhante, a dupla adotou uma filosofia de “carregar pouco ou quase nada, mas estar preparado para tudo”. Cada item nas suas mochilas — para além do básico como roupa, água, alimento e primeiros socorros — era escrutinado ao grama, num exercício de engenho e parcimónia essencial para sobreviver em locais ermos e distantes de qualquer habitação.
“Esta não foi uma simples caminhada, mas uma verdadeira expedição do século XXI. Enfrentámos terrenos difíceis, perigos iminentes e a constante batalha contra os elementos, mas a experiência e a sagacidade da dupla permitiram superar cada obstáculo”, afirmaram os aventureiros.
A sinergia entre o conhecimento científico de Rondelli e o espírito prático de Pimenta mostrou-se fundamental para ler a paisagem e extrair dela narrativas valiosas.


Nas imagens, o olhar sempre atento e curioso da dupla
O levantamento realizado pela dupla revelou-se de um valor incalculável para a compreensão integrada da costa norte portuguesa, destacando a complexa e por vezes pouco clara interação entre as diversas áreas protegidas.
A sua saga, um hino à resiliência, à amizade e à paixão pelo conhecimento, demonstra que as maiores aventuras e descobertas podem estar mesmo ao lado — exigindo apenas um olhar atento e a coragem de se aventurar para além da estrada batida.
Conheça os expedicionários
Rodrigo Pimenta
Casado com Marcelle e pai de Stephano e Enzo, Rodrigo Pimenta é empresário, formado em Comunicação Social pela PUC-RJ/UFES, com especializações em Marketing (ESPM-RJ), Planejamento Estratégico (FGV-RJ) e MBA em Marketing (FGV), além de formação em Brand Management pela London Business School (Reino Unido).
Foi Diretor Criativo da McCann Erickson, até fundar o seu próprio grupo de empresas com atuação nos setores de comunicação, imobiliário, tecnologia e saúde.
Ao longo da carreira, geriu estratégias de marketing e comunicação para grandes marcas globais como Coca-Cola, Microsoft, General Motors, MasterCard e indústrias líderes em celulose, mineração e pedras ornamentais.
Participou da criação de políticas públicas de comunicação para o Governo do Brasil durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, incluindo os programas Comunidade Solidária e Voluntários, que lhe renderam homenagem no Palácio do Planalto pela primeira-dama Ruth Cardoso.
Em Portugal, onde vive há 13 anos, foi distinguido pelo governo português tanto no setor empresarial quanto no social, sendo recebido por três vezes pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e convidado pelo Primeiro-Ministro António Costa a participar de reuniões estratégicas sobre inovação tecnológica.
Hoje, atua como empresário, orador e consultor em empresas e instituições públicas, com ênfase em inovação, governança e sustentabilidade.
Sérgio Rondelli
Carioca, 68 anos, geógrafo e empreendedor, Sérgio Rondelli é uma das figuras mais singulares do país no campo das viagens de exploração e ciência da paisagem. Casado com Márcia e pai de Kayan e Liv, vive atualmente em Vitória (ES), onde é fundador da BPP – Brasil Passo a Passo, referência nacional em viagens de aventura com conteúdo científico.
Em 1996/97, Rondelli percorreu todo o litoral brasileiro a pé ao longo de 440 dias, produzindo textos, fotos e vídeos que deram origem às edições de 1996, 1997 e 1998 do Guia de Praias 4 Rodas, da Editora Abril.
Em seguida, entre 1998 e 2000, viajou por todos os estados brasileiros documentando a relação do brasileiro com o ecossistema, trabalho que originou o livro Brasil Singular Plural.
De 2007 a 2008, realizou uma nova jornada do Oiapoque ao Chuí, atualizando os registros sobre o litoral brasileiro e criando o portal brasilpassoapasso.com.br.
Com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas (Fucape/ES) e formação em Professional & Self Coaching (IBC), Rondelli é também palestrante e consultor para empresas como Petrobras, Banco do Brasil, ArcelorMittal, Algar, Sebrae e Amana-Key, com mais de uma centena de apresentações realizadas.
Sua trajetória une ciência, arte e resistência física, sempre com um olhar curioso sobre o território e sobre o ser humano diante da natureza — o que faz de suas expedições verdadeiros ensaios sobre o Brasil e o mundo.
