Um capixaba de 29 anos morreu durante um ataque na guerra entre Ucrânia e Rússia. Bruno de Paula Carvalho Fernandes, natural de Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo, atuava como voluntário em missões de resgate de soldados feridos na linha de frente do conflito. A morte foi confirmada pela família nesta segunda-feira (1º), após ser informada por uma tradutora ucraniana.
Bruno havia se mudado para Governador Valadares (MG), onde vivia com a esposa e dois filhos. Formado como técnico de enfermagem, ele atuou na linha de frente da Covid-19, na cidade mineira. Segundo familiares, ele embarcou para a Ucrânia em maio deste ano com o objetivo de contribuir com ajuda humanitária, mas acabou sendo deslocado para a frente de batalha.
De acordo com a família, Bruno foi morto durante uma emboscada ao lado de outros dois combatentes ucranianos. Um outro brasileiro que estava com ele teria sobrevivido.
O corpo ainda está na Ucrânia, e a família aguarda informações sobre o translado para o Brasil. O clima é de comoção entre amigos e ex-colegas de trabalho, que o descrevem como um profissional generoso, dedicado e idealista.
Bruno é o primeiro capixaba oficialmente identificado como vítima do conflito no Leste Europeu desde o início da guerra, em 2022.
“Meu filho morreu por falta de socorro”: mãe de Bruno relata dor, angústia e pede providências
A confirmação da morte de Bruno chegou de forma fria, informal e profundamente dolorosa para a família. Em entrevista ao News Espírito Santo, a mãe dele, Bethania Paula Silva Gueze, relata a dor de perder o filho em um país estrangeiro, sem assistência, sem respostas e ainda sem suporte do governo brasileiro.
“Até o momento, a informação de que ele faleceu veio pelo WhatsApp da minha nora. Tentamos retorno, mas não conseguimos”, conta a mãe, ainda em choque.
De acordo com o que a família conseguiu apurar por relatos extraoficiais, Bruno teria sido atingido por dois tiros — um na cabeça e outro na perna — e morreu por hemorragia, por falta de atendimento médico.
“Meu filho morreu por falta de socorro, no batalhão em que ele estava na Ucrânia. Disseram que ele sangrou muito depois de levar um tiro na perna. É desesperador saber disso assim, sem apoio, sem certeza de nada.”
“Mandei mensagem para o número da Embaixada na Ucrânia, mas não consegui informações. Só disseram que, quando souberem de algo, vão nos avisar. É muita angústia. Perder um filho já é uma dor imensa, mas ficar sem notícias, isso é muito difícil.”
Bruno tinha um filho de 5 anos e uma enteada de 6, e vivia com a esposa em Governador Valadares (MG). A mãe conta que, quando comentou sobre a ida à guerra, ele dizia que o objetivo era trabalhar na retaguarda, prestando apoio como técnico de enfermagem, e não lutar na linha de frente.
“Ele me disse que queria ir como enfermeiro. Mas nunca me mandou uma foto dele trabalhando na enfermagem. Só me mandava fotos de treinamento, em ambientes subterrâneos ou no meio da mata. Ele já tinha levado um tiro. Sofria com movimentos involuntários nas mãos. Não tinha condições de estar no front.”
Bethania demonstrou preocupação com a atuação de redes que recrutam jovens brasileiros pela internet com promessas de trabalho na Ucrânia.
“Meu filho foi para lá por meio de um site brasileiro que está recrutando jovens para a guerra. Estão atraindo nossos filhos. Isso precisa acabar. Alguém tem que tomar providências. Temos que alertar outras famílias. É muito difícil depender de outro país, e ver seu filho morrer assim.”
No meio da dor, o apelo de uma mãe capixaba por justiça, dignidade e respostas ecoa entre o luto e a impotência.
“A gente está muito abalado. A ficha está caindo aos poucos. É um choque muito grande.”