Durante sua participação no Encontro da Indústria 2025, realizado pela Findes e pelo Cindes em Vitória, o economista e autor Eduardo Giannetti destacou um movimento global que, segundo ele, deve moldar os próximos anos da economia mundial: o fim da chamada hiperglobalização. O evento aconteceu no último dia 22 de maio e reuniu empresários, autoridades e lideranças do setor produtivo capixaba, além de homenagear personalidades que contribuíram para o fortalecimento da indústria no Espírito Santo.
“Estamos vivendo o fim de um ciclo longo de hiperglobalização. Isso é uma realidade permanente, uma verdade que veio para ficar. Existe uma realidade previsível: todos nós mudaremos nos próximos anos e décadas”, afirmou Giannetti durante sua palestra.
Com o tema “Desenvolvimento econômico e perspectivas para a Indústria Brasileira”, o economista dividiu sua fala em três eixos principais: cenário internacional, economia brasileira e os desafios colocados para o Brasil e sua indústria.
Segundo ele, o enfraquecimento da globalização teve início na crise financeira de 2008-2009, ganhou força com a pandemia da Covid-19 e se intensificou na saída dela, quando as fragilidades das cadeias produtivas internacionais ficaram evidentes.
“O protecionismo está em alta. Isso provoca uma série de consequências: redução do comércio global, menor eficiência microeconômica, alta da inflação, incerteza nos investimentos e até perda de confiança no dólar como moeda internacional. O mundo está caminhando para a diversificação e busca de segurança nas cadeias produtivas, especialmente em setores críticos, como o de chips e insumos farmacêuticos”, explicou.
Brasil diante de uma nova ordem
Na avaliação de Giannetti, o novo cenário pode beneficiar países como o Brasil, historicamente pouco integrados ao comércio global. Para ele, o país tem a chance de ampliar sua participação internacional em áreas como manufatura, agricultura, serviços e turismo, desde que administre com responsabilidade suas vantagens comparativas — principalmente o patrimônio ambiental.
“O Brasil é altamente vocacionado para energias renováveis, como solar e eólica, com custos de produção já competitivos e grande potencial de expansão sem a necessidade de subsídios”, afirmou o economista, destacando ainda que apenas 14 países conseguiram escapar da chamada “armadilha da renda média” nos últimos 70 anos — todos eles com forte presença de manufaturas ou serviços exportáveis.
Ele também reconheceu avanços recentes: “Apesar das dificuldades, o Brasil surpreendeu positivamente com crescimento acima de 3% ao ano, geração de empregos, redução do desmatamento e melhora no IDH”.
Desafios e oportunidades para a indústria capixaba
Eduardo Giannetti fez questão de destacar a vocação industrial do Espírito Santo. “O Espírito Santo é um Estado com vocação industrial. A participação da indústria no PIB do Estado mostra isso”, afirmou. Para ele, um dos grandes desafios da indústria capixaba está na agregação de valor à produção de alimentos.
“A primeira coisa que as pessoas fazem quando passam a ter uma renda melhor é melhorar a dieta. É uma oportunidade concreta para o setor”, observou.
Entre os obstáculos nacionais citados, estão os juros elevados, o problema fiscal estrutural, o Custo Brasil, a necessidade de revisão de gastos públicos e tributários e o engessamento orçamentário. Além disso, falhas na infraestrutura ainda limitam o potencial de inserção do país no comércio internacional.
Para Giannetti, o futuro do Brasil está atrelado a dois pilares: investimento em capital humano, com foco na educação, e a gestão responsável dos recursos naturais. “Não podemos, em um mundo tão interdependente quanto o nosso, perder de vista o que se passa lá fora. Mesmo eventos de baixíssima probabilidade, como pandemias, guerras ou mudanças climáticas extremas, afetam diretamente a nossa realidade”, concluiu.