O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data que nos convida a refletir sobre o passado, compreender o presente e, principalmente, reafirmar compromissos com um futuro mais justo e igualitário. Mais do que um marco histórico ligado à luta de Zumbi dos Palmares, a data simboliza resistência, identidade, dignidade e o combate ao racismo, que ainda enfrentamos diariamente no país.
Um país estruturado a partir de uma forte segregação racial — desde a colonização europeia — revela isso em diversos índices e indicadores sociais. Pretos e pardos, que representam 56% da população brasileira, apresentam os piores resultados de renda, moradia, escolaridade e acesso a serviços, segundo o IBGE (2019). Também estão entre a maior parte das vítimas de violência do Estado e de homicídios, sobretudo mulheres e jovens negros, de acordo com o Atlas da Violência (2020).
Como homem negro que vive diariamente os desafios de ocupar espaços que, por muito tempo, não foram pensados para pessoas como eu, este dia não é apenas simbólico — é cotidiano. É sobre memória, luta e responsabilidade. É sobre lembrar de onde eu vim e por que cheguei até aqui.
A educação foi a ferramenta que transformou a minha vida. Foi ela que me afastou da violência, das drogas e das estatísticas que marcaram a realidade da periferia onde cresci. Foi ela que me permitiu ajudar minha família em momentos difíceis e acreditar em possibilidades que pareciam distantes.
Ainda jovem, tive meu primeiro contato transformador com o universo jurídico. Com uma bolsa de estudos em uma faculdade, comecei minha caminhada no Direito, uma escolha guiada pela certeza de que estudar era o meu caminho de liberdade.
Minha própria história me ensinou que defender a educação no Brasil é também defender a dignidade. Não basta construir escolas modernas se as crianças chegam com fome. Acredito profundamente que o desenvolvimento do país passa por políticas de transferência de renda e por investimento consistente em educação pública.
Chegar até aqui foi fruto de insistência, oportunidade e, principalmente, educação. O contato com a educação pública definiu minha missão profissional. Quando participei da criação de uma associação de diretores escolares, percebi que faltava assessoria jurídica especializada para o magistério. Passei a estudar profundamente a legislação educacional e, em 2014, fundei o escritório que hoje atua em defesa dos profissionais do magistério.
Em 2003, o Dia da Consciência Negra entrou para o calendário escolar com a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas.
Nesta data, reflito sobre a minha trajetória — mas também sobre todas as histórias que nunca tiveram a chance de existir. Refletir sobre consciência é refletir sobre acesso, equidade e oportunidade real. E a educação segue tendo um papel social central até hoje. O meu compromisso é continuar usando o Direito como ferramenta para transformar vidas, combater desigualdades e fortalecer a educação pública, que é, para mim, o maior instrumento de liberdade que existe.
