Como endocrinologista e especialista em Medicina do Esporte, frequentemente recebo pacientes que se queixam de cansaço, falta de foco e queda no rendimento no trabalho. O que está por trás desses sintomas é um conjunto de hábitos pouco saudáveis que se reforçam mutuamente — especialmente o uso excessivo do celular e as escolhas alimentares que ele acaba incentivando. Passar longas horas conectado ao celular não é apenas uma questão de tempo perdido. Quando nos mantemos imersos no mundo digital, nosso cérebro é constantemente bombardeado por estímulos que elevam o estresse e a ansiedade. Essa ativação crônica aumenta a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que em níveis elevados prejudica nossa capacidade cognitiva e nosso equilíbrio emocional.
O aumento do cortisol desperta no organismo uma necessidade imediata de “recompensa” — e é aí que entra a alimentação. O estresse e a ansiedade nos levam a buscar alimentos calóricos, ultraprocessados e ricos em açúcar, que trazem uma sensação momentânea de conforto. Infelizmente, essa compensação traz um impacto contrário a médio e longo prazo: picos e quedas bruscas de energia, sensação de fadiga, inflamação corporal e até alterações no metabolismo da glicose. Todos esses fatores contribuem para uma perda significativa da produtividade.
O trabalhador que se alimenta mal, influenciado pelo tempo excessivo de tela e pelo estresse digital, sofre quedas na concentração, diminuição da memória e da capacidade de resolver problemas. A chamada “névoa mental” — aquela sensação de mente pesada e lenta — é consequência direta desses hábitos. E quanto mais o indivíduo tenta compensar trabalhando por mais horas, muitas vezes em frente a dispositivos eletrônicos, mais o ciclo se repete.
Outra consequência que não podemos ignorar é o impacto no sono. O uso constante do celular, especialmente próximo ao horário de dormir, prejudica a produção de melatonina, o hormônio regulador do sono. A falta de uma boa noite de descanso compromete a recuperação do organismo, reduz a disposição e torna o cérebro menos eficiente, fechando um ciclo perigoso para a produtividade.
Como médica, reforço que a solução não está em cortar radicalmente o uso do celular, mas em promover um uso mais consciente e equilibrado. Recomendo pausas regulares durante o expediente para desconectar e movimentar o corpo, assim como uma alimentação rica em nutrientes — priorizando frutas, verduras, proteínas magras e gorduras boas — que ajudam a estabilizar a energia e o humor.
Por fim, cuidar do sono e da saúde mental é fundamental. Técnicas simples como a meditação, exercícios respiratórios e o estabelecimento de uma rotina noturna longe das telas ajudam a restabelecer o equilíbrio hormonal e mental.
Em resumo, o uso descontrolado do celular e a alimentação inadequada estão diretamente ligados à queda na produtividade do trabalhador moderno. Se queremos ser mais eficientes, criativos e felizes no trabalho, precisamos olhar para esses hábitos com atenção e agir para resgatar o equilíbrio que nosso corpo e mente tanto precisam.
Gisele Lorenzoni é endocrinologista pós-graduada em Medicina do Esporte