Evento alerta para os riscos da prescrição inadequada e reforça a importância do combate à resistência bacteriana
O Hospital Vitória Apart, na capital capixaba, promoveu nesta semana um curso inédito sobre o uso racional de antibióticos, reunindo médicos de diferentes especialidades para debater um dos maiores desafios da medicina contemporânea: como prescrever de forma segura medicamentos que salvam vidas, mas que também podem representar riscos à saúde coletiva.
Organizado pela equipe de infectologia do hospital, o evento aconteceu até esta quinta-feira (25) e propôs uma reflexão sobre o impacto de cada prescrição, tanto para o paciente quanto para toda a sociedade.
“Se tem uma coisa que todo médico já fez na vida foi prescrever antibiótico. Mas será que todos se sentem realmente seguros ao fazer isso?”, provocou a infectologista Polyana Gitirana, uma das idealizadoras do curso.
Resistência e efeitos colaterais: um alerta necessário
A iniciativa destaca os perigos do uso indiscriminado de antibióticos, especialmente o avanço silencioso da resistência bacteriana — fenômeno que compromete a eficácia dos tratamentos e representa um risco crescente à saúde pública.
Além disso, o curso aborda efeitos adversos muitas vezes subestimados, como arritmias cardíacas, reações dermatológicas graves e até dissecção de aorta, associados a alguns antibióticos amplamente prescritos.
“Apesar do risco, esses medicamentos ainda são receitados com menos cautela do que outros fármacos de alta complexidade, como os quimioterápicos. Essa cultura precisa mudar”, alertou Polyana.
Desconstruindo mitos
O curso também desmistifica a ideia popular — e até médica — de que existem “antibióticos fortes”. Para a especialista, o que importa é a eficácia do antibiótico certo contra a bactéria certa, e não a potência aparente do medicamento.
“Às vezes, um comprimido simples, tomado em casa, pode ser mais eficaz do que um antibiótico venoso caríssimo usado no hospital”, explicou a infectologista.
Uma mudança de cultura
Mais do que uma capacitação técnica, o curso propõe uma mudança de mentalidade. O objetivo é que os profissionais saiam mais confiantes para prescrever antibióticos com critérios rigorosos, evitando riscos e contribuindo para a segurança da coletividade.
“Cada receita é uma decisão que vai além da saúde individual. Nosso compromisso é com toda a sociedade”, concluiu Polyana.