Início da floração de cerejeiras atrai visitantes ao interior de Alfredo Chaves

Por Rachel Martins

Quem ainda não teve a oportunidade de ver uma floração de cerejeiras pode começar a se preparar para pegar a estrada rumo a Redentor, a poucos quilômetros do distrito de São Bento de Urânia, em Alfredo Chaves. O Sítio Monte Rá foi idealizado pelo mestre de taekwondo Lee Chung, de 83 anos, no início dos anos 2000. A visita ao local é uma verdadeira poesia em forma de flor.

A cerejeiras espalhadas pelas estradas do sítio. Foto: Prefeitura de Alfredo Chaves

Foi exatamente o ato de “contemplar as flores” – o Nanami – que deu origem a um dos mais belos festivais do Japão, celebrado em todo o país durante a primavera, entre os meses de março e maio.

O Festival das Cerejeiras (Sakura Matsuri) surgiu justamente para marcar o início dessa estação, que também representa o começo da época de plantio do arroz. Há séculos, banquetes eram organizados sob as copas das cerejeiras, regados a saquê e outras iguarias típicas.

Crianças se divertem e se encantam com o visual. Fotos: Nathalie Pauli

Antigamente, moças costumavam enfeitar os cabelos com flores de cerejeira e decorar os jardins de casa como forma simbólica de mostrar que estavam em busca de um amor. Já os poetas e escritores usavam as cerejeiras como inspiração, traçando em seus versos os paralelos entre a beleza exuberante e efêmera da flor e a transitoriedade da vida — já que sua floração dura poucos dias.

Também se acreditava que deuses habitavam as árvores. Por isso, oferendas eram deixadas aos pés das cerejeiras para pedir boas colheitas e sorte. Os piqueniques sob as árvores, tradição que perdura até hoje, nasceram desse costume ancestral. Ao longo do tempo, os rituais mudaram, mas a essência se manteve: reunir-se sob as cerejeiras é celebrar a beleza, a natureza e o instante presente.

Alegria e felicidade

Foto: Natalhie Pauli

Embora seja uma árvore nativa do Japão, a cerejeira é cultivada em diversos países por sua beleza — inclusive no Brasil e aqui no Espírito Santo, graças ao Mestre Lee, que acreditou na idealização do bosque do Monte Rá, hoje com mais de 300 árvores.

Neste ano, o auge da floração está previsto para a segunda quinzena de julho, quando o cenário atinge seu ponto máximo de cor e delicadeza. O sítio ainda abriga um lago em estilo japonês e balanços posicionados entre as árvores, proporcionando aos visitantes uma viagem no tempo e, quem sabe, o resgate de alguma memória afetiva.

Sempre convivi, desde criança, com a beleza das cerejeiras. Na minha terra, a Coreia, elas são chamadas de Beotkkot. Quando cheguei ao Espírito Santo, percebi que o clima seria bom para cultivá-las. Foi preciso paciência, fui tentando, e deu certo. Elas me lembram os bons tempos na minha terra e representam alegria e felicidade. Lá, florescem na primavera. Aqui, no inverno. É uma beleza tão grande que achei por bem compartilhar, abrindo o Monte Rá à visitação, dividindo essa alegria”, conta Mestre Lee.

Paz e gratidão

A fotógrafa Pietra já teve a oportunidade de visitar o local e lembra do momento como uma experiência profundamente emocionante:

Estar no Monte Rá, cercada pelas cerejeiras em plena floração, é algo que mexe com todos os nossos sentidos. Como pessoa, fui tomada por uma sensação de paz e gratidão. Como fotógrafa, foi impossível não me encantar com a beleza delicada de cada detalhe – a textura das pétalas, o contraste suave das cores, a luz filtrada pelas árvores.”

E completa:

“É um cenário que, a cada ângulo, oferece uma nova composição, uma nova história. O que mais me marcou foi essa harmonia entre o grandioso e o simples. A natureza ali se apresenta com tanta leveza e, ao mesmo tempo, com uma força que toca a alma. Saí de lá renovada, inspirada e com um desejo enorme de registrar toda aquela beleza para eternizá-la”.

Pietra destaca, ainda, que o acesso ao sítio é tranquilo e faz parte da experiência:

“A estrada é de terra, porém boa. O trajeto é sinalizado e, aos poucos, o caminho vai nos preparando para o espetáculo que está por vir. E quando a gente chega, entende que cada quilômetro percorrido valeu muito a pena.”

Espetáculo raro

Outra fotógrafa, Nathalie Pauli, também já visitou várias vezes o bosque das cerejeiras do Monte Rá.

Um recanto para descanso da família. Foto: Nathalie Pauli

“A flor da cerejeira dura apenas uma semana por ano. Para florescer, elas precisam de condições ideais e, em alguns anos, acabam não florindo. Daí a raridade do seu espetáculo. Em sua aparente fragilidade, juntas, naquele mar cor-de-rosa, transmitem uma força indescritível. Caminhar entre elas nos faz sentir, de fato, que existe uma força espiritual. Uma energia que se mistura entre o raro e o belo. E, quando percebemos, toda a família está completamente envolvida, conectada e maravilhada, independentemente da idade, das crianças aos adultos”.

Ela conta que há oito anos visita as cerejeiras com a família e, de tão lindo que é, nos últimos seis anos, tem realizado o “Especial Cerejeiras”, uma oportunidade em que leva outras famílias para viverem e terem o registro guardado desta experiência única.

“O Sítio Monte Rá, em especial, tem sido o local escolhido por mim, não pela beleza, mas também por sua história e grande carinho dos anfitriões, o casal coreano, Mestre Lee, o mestre que trouxe a arte do taekwondo para o Brasil, e a senhora Moon, sua esposa adorável, que, com muita gentileza, abrem seu paraíso particular para que possamos desfrutar deste espetáculo”, destaca.

Graças a paciência e a determinação do Mestre Lee, a flor de cerejeira agora está também no coração dos capixabas, aflorando os sentimentos mais genuínos diante de sua beleza. Este ano, as cerejeiras já começaram timidamente a dar o ar da graça no Sítio Monte Rá e vale muito a pena visitar. É um momento único para agradecer à vida e tudo o que ela proporciona, além da chance de perceber que sempre é possível recomeçar.

Como chegar:

A partir da igreja do distrito de São Bento de Urânia, são cerca de 9 quilômetros por estrada de terra até o sítio. A sede de Alfredo Chaves fica a 45 quilômetros do local. Também é possível chegar pela BR-262, via distrito de Victor Hugo.

A visitação é gratuita e pode ser feita diariamente. Não há estrutura de apoio, como banheiros ou lanchonetes, então é bom se planejar.

Atenção:

É permitido realizar piqueniques, mas lembre-se: cada visitante é responsável por seu lixo. A casa de Mestre Lee fica no local — mantenha distância para não incomodar a família. E, por favor: nada de depredar o patrimônio natural ou arrancar flores das árvores.

Curiosidade:

O acompanhamento da floração das cerejeiras japonesas (Sakuras), que acontece há mais de 1.200 anos, é considerado o estudo fenológico mais antigo do mundo. Ele ajuda a compreender o ciclo de vida da cerejeira, sua relação com o ambiente e as variações climáticas. No século IX, a prática era restrita à elite imperial japonesa — com o tempo, tornou-se tradição popular em todo o país e, mais tarde, em diversas partes do mundo.

Contato:

@sitio_monte_ra

Telefone: (27) 99862-0882

Créditos

Fotos: Pietra, Nathalie Pauli e Prefeitura de Alfredo Chaves

A colunista

A coluna “na EStrada” é uma publicação quinzenal da jornalista Rachel Martins, especialista em reportagens de Turismo.
Sugestão de pautas podem ser enviadas para o e-mail: contato@newsespiritosanto.com.br

 

 

sobre nós

Diretor de conteúdo – Eduardo Caliman

Jornalista formado pela Ufes (1995), com Master em Jornalismo para Editores pelo CEU/Universidade de Navarra – Espanha. Iniciou a carreira em A Tribuna e depois atuou por 21 anos em A Gazeta, como repórter, editor de Política, coordenador de Reportagens Especiais e editor-executivo. Foi também presidente do Diário Oficial, subsecretário de Comunicação do ES e, de 2018 a 2024, coordenador de comunicação institucional no sistema OAB-ES/CAAES.

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