Em 2010, Rachel Máximo, engenheira civil, tomou uma decisão que mudaria sua vida e o cenário fitness do Espírito Santo. Aceitou a transferência de Belo Horizonte para Vitória, para assumir um novo cargo na Vale.
A família mineira, que já frequentava o Espírito Santo durante o verão, acompanhou a mudança. Com ela vieram o marido, Leon Sayegh, e o irmão, João Paulo Máximo.
Atento às oportunidades do mercado, o piloto de avião Leon decidiu empreender e, junto com seu cunhado João Paulo, criou a Wellness Club em 2010. O sucesso foi tanto que Rachel deixou a Vale para se dedicar exclusivamente à academia. Desde 2024, ela é diretora executiva da rede.
Quinze anos depois, a rede se tornou a maior do Estado, com 50 mil alunos e 15 unidades distribuídas na Grande Vitória, nas cidades de Vitória, Vila Velha e Serra, e também no interior do estado, em Linhares, Cachoeiro de Itapemirim e Colatina. Os números fazem da Wellness a maior rede de academias do Espírito Santo.
Nesta entrevista, a CEO da Wellness detalha os desafios do início (“passando fome mesmo”), a virada estratégica pós-pandemia que transformou a academia em “questão de saúde”, e os ambiciosos planos de triplicar o número de unidades para 50 até 2026, com expansão para Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
Rachel também revela o “pulo do gato” que conquistou o capixaba e um conselho poderoso para quem sonha em empreender.
Rachel ao lado de instrutores na unidade de Jardim da Penha: nosso diferencial é o bom atendimento
Você era engenheira ferroviária na Vale. Como surgiu a ideia de abrir uma academia?
Eu era engenheira civil de formação, mas trabalhei a vida toda com engenharia ferroviária. Fiz especialização no IME, no Rio de Janeiro. Em 2008, vim pra Vitória a trabalho e planejava ficar “uns dois anos” — hoje são 17! [risos]. Meu marido, Leon, era piloto internacional e notou que academias no exterior tinham um padrão superior. Como sempre fomos apaixonados por atividade física, surgiu a ideia de fazer a academia. Meu irmão, João Paulo, que tinha feito Direito e turismo e não estava satisfeito, veio passar um final de semana comigo e disse: “Nossa, Raquel, quero morar aqui, quero praia”. Aí decidimos abrir a primeira unidade na Praia da Costa em 2010.
Como foi o processo para abrir a primeira unidade da Wellness?
A gente foi muito bem recebido. Mas no final, foi tipo: “Ou abre a academia, ou meu irmão volta para Belo Horizonte”, porque ninguém mais tinha dinheiro para colocar. Eu já tinha dado tudo que eu tinha, meu irmão também. Meu pai ajudou. É uma história de empreendedorismo para conseguir realmente inaugurar esse negócio. Financiamos equipamentos, tudo era uma luta para abrir essa primeira, passando fome mesmo, assim, economizando no almoço, na janta, para conseguir a gente fazer o negócio.
Vocês já abriram com esse padrão visual premium que a Wellness tem hoje?
Eu falo que era um padrão de 15 anos atrás, mas sim, foi. O nosso diferencial foi realmente o padrão e a qualidade do que a gente colocou lá. Esse foi um pulo do gato. E a gente sempre trabalhou de forma assim: sabe aquela história que fala muito, “empresa rica, dono pobre”? A gente trabalhou muito assim. João Paulo e Leon tinham um salário que eles combinavam e tiravam aquele salário. A gente não tirava tudo da empresa para gastar. Com isso, conseguimos reinvestir para fazer as próximas unidades. Leon é muito empreendedor e visionário, sempre pensando na próxima unidade. E João Paulo, meu irmão e sócio, é muito do dia a dia, operacional, presente na academia das 5h da manhã às 23h. No início, eu saía da Vale e era caixa, era recepcionista, e ainda tinha aquele cheque “bom para”. Eu lembro de quantos “bom para” eu tive na minha vida!
Vocês têm uma história de 15 anos. A primeira unidade foi na Praia da Costa e depois expandiram para o Shopping Norte Sul. Como foi essa decisão de expansão para toda a Grande Vitória e para o interior?
A pandemia foi um divisor de águas pra gente na Wellness. Quando veio, a gente estava abrindo essa unidade aqui [a quinta], e aí “puf”, fechou tudo! Foi uma loucura. Tivemos que nos organizar, reestruturar. Quando acabou a pandemia, tivemos um sucesso muito grande, no sentido de que a academia não era mais só um lugar para ter um corpo sarado. A academia passou a ser um lugar para ter saúde. Viu-se que o sedentarismo é muito ruim; se você pratica atividade física, sua chance de recuperação [em caso de doença] é muito maior. Isso casou muito com o nosso lema, que sempre foi bem-estar, “apaixonados por saúde”. Essa foi a grande sacada, a virada de chave, e o Leon começou a colocar investidores.
Como funciona a captação de investidores e qual o papel deles na expansão?
A gente sempre mantém 51% do controle, a gestão é toda nossa. Começamos a trazer investidores amigos, do Espírito Santo mesmo, para investir na empresa, com 49% para eles. A partir da sexta unidade, conseguimos acelerar nosso crescimento porque não era só com nosso recurso próprio, mas com o suporte desses investidores. Hoje temos uma holding com pessoas grandes que nos procuraram, que são amigos. Eles são nossos maiores sócios nessas sete unidades que estamos fazendo agora.
A capilaridade da rede é um diferencial. Como isso se reflete nos planos e preços?
A ideia é realmente crescer como rede, então começamos a olhar o Espírito Santo como um todo. Você tem pessoas que trabalham em um lugar, passam o final de semana em outro, e a rede ganha força. Com esse olhar de rede, de querer que você possa treinar tanto na orla de Camburi quanto em Vila Velha, em Laranjeiras ou no interior, é essa a ideia. Criamos planos mais simples e objetivos.
Quais são os modelos de planos que vocês oferecem e quais são os valores?
Criamos um plano Básico, que é uma assinatura como o Netflix, para treinar naquela unidade específica. Por exemplo, em Jacaraípe, para quem vive e trabalha lá. Depois, temos a assinatura Plus, que é o nosso carro-chefe e nosso maior objetivo, onde você malha em toda a rede. E em paralelo, criamos a assinatura Blue, para duas unidades que consideramos mais premium e disputadas: as orlas de Camburi e Itaparica. Quem está no Blue pode malhar em todas as unidades. Os preços são diferentes dependendo da localização para o plano Básico, mas o Plus e o Blue têm o mesmo valor.
Em termos de valores, qual é o mínimo que uma pessoa pode pagar e qual o plano premium?
Hoje, nossa unidade mais básica está com um plano de R$ 137. O plano Premium (Blue) está em R$ 217 este mês. O plano Plus hoje é R$ 187.
Vocês oferecem descontos para algumas profissões ou entidades?
Já trabalhamos dessa forma, com descontos para advogados, hospitais, mas fica muito pontual. Hoje, temos grandes trabalhos sendo muito bem feitos pela Gympass. Aceitamos a Gympass na academia. Não trabalhamos com descontos exclusivos, mas aceitamos a Gympass para quem for de empresa. Nossos atrativos normalmente são promoções sazonais que fazemos todos os meses, como no Dia das Mães, para incentivar e trazer as pessoas.
Existe um plano de diárias na Wellness?
Sim, existe a diária se você quiser malhar aqui só hoje, às vezes por exemplo, você não é daqui de Vitória.
A diversidade de pessoas que malham na Wellness mudou ao longo dos anos?
Sim, muito. Principalmente depois da pandemia, com a questão de malhar não só pelo corpo, mas pela saúde e longevidade. Isso fez muita diferença no público. Antes, a faixa etária era de uns 20 a 40 anos. Hoje temos gente na academia com 87, 90 anos, que treina com a gente. E os mais novos também: meninos de 12, 13 anos já podem entrar na academia com autorização.
Vocês oferecem alguma atenção especial aos idosos e adolescentes?
Sim, nosso atendimento, nosso pessoal é treinado para fazer um atendimento. Claro, se você quer algo muito personalizado, tem o personal que faz o plano à parte. Mas, com certeza, se vier uma pessoa mais idosa aqui, ela vai ter um acompanhamento e um programa de treino para ela. O Brasil vem envelhecendo e estamos atingindo essa parte. E os adolescentes: antigamente era muito bebida, muito boate. Hoje tem estudos que mostram que as pessoas não estão mais frequentando boate como antigamente. As pessoas estão com uma vida mais saudável, têm mais informação. E com as redes sociais, a imagem pessoal ganhou importância.
Diversidade de equipamentos e espaço amplo: duas características da rede Wellness
Pelo que você percebe e por informações que já recebeu, dá pra dizer que o capixaba malha mais que os vizinhos?
Dá para ser taxativo: malha mais. Há pesquisas e estudos que mostram que o capixaba malha mais. Atribuo isso principalmente ao fato de ser litoral… No verão, todo mundo quer chegar com o corpo sarado. Você expõe mais o corpo estando no litoral, e aí todo mundo fica mais saudável.
Qual a importância da musculação, especialmente para a terceira idade?
Você vai no médico hoje, o que ele fala? Tem que fazer atividade física. Eles reforçam a importância da musculação para a terceira idade. Natação e corrida não substituem a musculação. A panturrilha é o seu segundo coração. Eu corro, mas se estou cheia de dor, a recuperação é diferente. Por mais que você esteja com um problema, uma dor – porque vai ter, a idade chega para todo mundo –, se você faz uma atividade física, sua recuperação, sua dor, com certeza, é menor e mais fácil de melhorar do que a de uma pessoa sedentária.
Como são os planos de expansão da Wellness para outros estados do Sudeste e Bahia?
Eu falo que o céu não é o limite. A gente está aqui querendo conquistar o mundo. A gente vai voltar para Minas, quer conquistar o mundo, fazer um trabalho bem feito. A gente acredita que achou um potencial no mercado que não é muito explorado.
O que vocês levam de diferencial para essas novas academias?
Eu acho que são várias coisas. Primeiro, a localização, acertar o ponto. A estrutura, a gente tem uma boa estrutura. O atendimento: a gente fala que a Wellness é “gente cuidando de gente”. A gente leva realmente o propósito, o “apaixonados por saúde”, e sempre essa inovação, essa gestão. Estamos trabalhando de forma a conseguir um crescimento sustentável, mantendo a inovação e o olhar atento. A academia é aquele lugar para a pessoa ir lá e ficar uma hora de prazer. Ela vai se desestressar, fazer seu networking, conversar, se relacionar e sair dali feliz. Esse é o que a gente precisa proporcionar. E tem um crescimento de mercado acontecendo, e a gente tem que estar aproveitando. Por trás, estamos fazendo toda essa estruturação para que isso aconteça da melhor maneira possível.
Você pediu demissão da Vale depois de 18 anos. Como foi essa decisão e você sente que valeu a pena?
Eu acho que demorei uns três anos para pedir demissão. Na Vale, o pessoal fala: “o que é que eu tô fazendo na Vale?”. Mas eu sempre gostei da Vale, estava muito bem, tinha uma carreira. A Vale é uma mãe, tem benefícios bons. Realmente, é difícil tomar essa decisão e sair. Eu pedi demissão com 18 anos de Vale, muito tempo, já tinha conhecimento. Estava com uma coordenação, tinha uma equipe muito boa. Mas hoje percebo que valeu muito a pena, muito a pena. Saí em março do ano passado, não tem tanto tempo. Nesse um ano, quando eu entrei, a gente tinha sete, oito unidades; agora fizemos mais sete. Crescemos praticamente 100%! Queremos fechar o ano com 35 unidades e em 2026 fechar com 50 unidades. Vamos mais que triplicar.
Então o objetivo é ter uma Wellness perto do trabalho e da casa das pessoas, em Minas, Rio, Bahia, São Paulo e em toda a Grande Vitória, sem franquia?
É isso. A gente quer ter uma Wellness perto do seu trabalho e da sua casa, em todos os vizinhos. Bahia, Rio, São Paulo e Minas. E sem franquia.
Vocês acabaram de abrir uma loja em Cobilândia. Têm outros planos para bairros que não são da área nobre da cidade?
Temos vários planos. Inclusive, não só nesses bairros, mas já estamos com duas obras agora, uma em Aracruz e uma em São Mateus. Então, estamos indo para outras localidades. Tem mais na Serra também. A de Cobilândia chamou atenção por ser uma área que as outras academias ainda não entraram. Lá está lindo, lindo, lindo. Inauguramos semana passada e já está estourando, sucesso, sucesso. É um pessoal muito engajado.
E um investimento como o da Wellness melhora a autoestima do bairro..
Melhora, melhora muito. A gente consegue realmente influenciar tudo que está ao redor. Conseguimos dar resultado para a padaria, para a farmácia, para o supermercado, porque as pessoas começam a frequentar aquele lugar, saem dali e já vão resolver algum problema por perto. Você acaba aumentando a rentabilidade de outros comércios que estão perto.
A Wellness tem atividades extras, além das academias, como grupos de corrida ou aulas ao ar livre?
Essa é uma pergunta legal, porque quando a gente pensa em Wellness, a gente não fala só em malhar. Às vezes, tem grupo de corrida. A ideia é exatamente essa, a gente conseguir atingir várias comunidades. Temos aulas coletivas, yoga, fit dance, e hoje uma modalidade que está em alta, o W Flow, que é a flexibilidade, a parte de mobilidade. A gente participa, por exemplo, da Corrida da Garoto, que é super famosa. Fazemos um grupo, mandamos treinos específicos, damos suporte para as pessoas da academia que correm. A gente acaba englobando várias comunidades que querem um bem-estar, que querem fazer o que as faz se sentirem bem. No final do dia, é isso: como a gente torna a vida daquela pessoa melhor? Já transformamos muitas vidas. É bem bacana ver as histórias, os relatos, os depoimentos. É uma vida antes da academia, uma vida depois da Wellness.
Com esses planos de triplicar a rede, a Wellness será uma das maiores do Sudeste?
A gente se considera uma das maiores redes quando falamos de academias próprias, com investidores private equity, com investidores internos, sem ser franquia. A gente tem muito trabalho para fazer, somos bem pé no chão nesse sentido, para trabalhar de forma estruturada, com qualidade, com padronização, porque vamos chegar lá. A gente está hoje com 50 mil alunos, é muita gente que a gente consegue atender. É uma cidade.
Existe alguma mudança de hábito em relação aos horários de malhação?
Está mudando bastante. Com a pandemia e o home office, os horários acabaram se misturando. Agora, com as pessoas trabalhando mais presencialmente, a academia volta a encher mais antes e depois do trabalho. Mas empresários ou quem tem agenda flexível acaba malhando de 8h às 17h/18h. Estudantes vêm mais à tarde. Depois da pandemia, com a entrada do home office, deu uma mexida nesse pacote. Mas ainda tem horário de pico, bem cedinho, antes da entrada no trabalho. A gente agora está abrindo as academias às 5h da manhã. Pra pessoa estar aqui às 5h, ela tem que acordar 4h, 4h30. Tem pessoas também que gostam da noite, se sentem melhor, e os horários noturnos também enchem.
Que recado você dá como empreendedora para os outros capixabas sobre empreender?
O desafio é enorme. Você sair do zero para o um é muito difícil quando está começando. Mas é realmente acreditar no seu negócio, acreditar no seu potencial, no seu valor e naquilo que você quer fazer, e começar. Começa quebrando a cara, começa errando, mas começa, porque, como eu sempre falo, tudo que a gente faz, primeiro a gente começa, depois a gente melhora. Não existe mágica. Existe trabalho e existe dedicação para você ter resultado.