Luiz Paulo Vellozo Lucas – “A lei do mais forte e o calendário eleitoral”

A polarização radicalizada que tomou conta da política em todo o mundo, depois da revolução tecnológica da comunicação digital, toma forma distinta em cada país a depender da maturidade e força moral de suas instituições. São dois grupos. No primeiro estão os países democráticos onde existe perspectiva de poder pela via eleitoral para as forças em disputa, que assim lutampara vencer eleições e assumir o poder politico. No segundo grupo estão as nações onde ao menos um lado, ou campo politico, perdeu a perspectiva de poder pela via eleitoral e faz a luta politica por outros meios com destaque para a guerra de agressões no território digital que podem desaguar em violência no mundo real.

Nos primeiros dias de setembro de 2025, o Nepal viveu uma insurreição popular que teve como estopim a proibição das redes sociais no país. Vinte seis plataformas incluindo Facebook, WhatsApp, Instagram, X, YouTube entre outras foram suspensas pelo governo nepalês causando forte indignação principalmente entre os jovens. Protestos violentos começaram dia oito em Kathmandu com invasão e incêndio no parlamento e forte repressão policial causando 25 mortos e mais de 600 feridos. O primeiro Ministro K.P.Sharma Oli renunciou enquanto os protestos escalaram também em outras cidades com incêndios em prédios oficiais e fuga massiva de presidiários. O exercito assumiu o poder impondo toque de recolher e patrulhas nas ruas. Os desdobramentos políticos ainda não estão claros.

O julgamento de Jair Messias Bolsonaro e dos demais acusados de tramar um golpe militar depois de perder as eleições presidenciais em 2022 concluiu pela condenação dos acusados. O ambiente de tensão agravou-se com as sanções do governo norte americano e misturou-se com as articulações para as eleições de 2026. O Congresso Nacional deverá debruçar-se sobre as penas imputadas aos lideres e tentar um acordo para aprovar uma medida visando atenuar a dosimetria usada pelo STF no julgamento principalmente para os acusados fora do núcleo principal. A inelegibilidade de Jair Bolsonarodeverá ser mantida.

O apoio de parte da população vista nas manifestações de rua demonstra que o bolsonarismo, que venceu as eleições em 2018 fortemente impulsionada pelo uso das novas mídias digitais, é uma força viva relevante na sociedade brasileira e deve ser reinserida no jogo politico democrático depois das punições ao golpismo comprovado judicialmente. Segundo excelente artigo de Carlos Pereira, professor titular da FGV EBAPE no Estadão do dia 9/9, a reintegração via Estado de Direito não se confunde com anistia nem com impunidade. Punir e reinserir, longe de serem antônimos, compõem o mesmo desenho institucional” afirma Carlos Pereira. O julgamento e a condenação representam a derrota da estratégia usada pelo bolsonarismo para tentar se perpetuar no poder pela força mas não significam o final da disputa politica radicalizada dentro da sociedade que só será resolvida no terreno da política, submetida aocalendário eleitoral da democracia brasileira.

A revolução tecnológica e o ambiente digital transformaram completamente a vida moderna, as estruturas de produção e consumo de bens e serviços, os meios e o equilíbrio militar, a economia e o sistema financeiro, a politica e a luta pelo poder. O tema da regulação e a tipificação de crimes e dos limites legais no ambiente digital desafia os estados nacionais e suas instituições de governo. O sentimento anti sistema se alastra e produz fenômenos disruptivos e ilusões cognitivas coletivas que fazem emergir mitologias reacionárias como as doutrinas lideradas por Donald Trump e Jair Messias Bolsonaro.

O colapso do governo do Nepal e a insurreição popular violenta mostra que desligar as plataformas digitais não é opção e só vai precipitar a queda das tiranias. Trata-se de uma lição poderosa para os aspirantes a ditador e extremistas em geral absorvidos e inconformados em sua indignação vazia contra as instituições e as regras da democracia. É também um alerta para os desafios imensos da pactuação democrática da vida em ambiente digital, da geração de valores e riquezas imateriais e imaginarias, dos conflitos culturais e da importância de que se reconheça e aceite uma agenda de reformas e adaptação institucional a este novo mundo. Todos precisamos aprender, se adaptar e participar. 

É o preço da liberdade e da paz.

*Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de Produção e professor universitário. Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Ex-prefeito de Vitória-ES e ex-deputado federal pelo PSDB-ES. Membro da ABQ – Academia Brasileira da Qualidade.

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Diretor de conteúdo – Eduardo Caliman

Jornalista formado pela Ufes (1995), com Master em Jornalismo para Editores pelo CEU/Universidade de Navarra – Espanha. Iniciou a carreira em A Tribuna e depois atuou por 21 anos em A Gazeta, como repórter, editor de Política, coordenador de Reportagens Especiais e editor-executivo. Foi também presidente do Diário Oficial, subsecretário de Comunicação do ES e, de 2018 a 2024, coordenador de comunicação institucional no sistema OAB-ES/CAAES.

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