A teoria dos jogos é um campo da economia matemática, desenvolvida por John Nash cientista norte americano prêmio Nobel de 1994, que estuda situações em que os agentes tomam decisões e fazem estratégias para atingir resultados que dependem das decisões de todos. As decisões de cada agente afetam e são afetadas por todos envolvidos e seus interesses podem ser conflitantes ou convergentes.
A teoria do equilíbrio geral, pilar central da macroeconomia, postula que em mercados perfeitos existe um preço onde a curva de oferta corta a curva da demanda chamado de preço de equilíbrio. Assim, com empresas e consumidores agindo racionalmente, buscando maximizar seus ganhos próprios, os mercados competitivos encontram um ponto de equilíbrio de preço e volume de produção para a economia que expressa o interesse da sociedade em seu conjunto.
John Nash contestou o pilar principal da teoria econômica ao mostrar que os agentes que atuam e decidem produzir, comprar e vender nos mercados se comportam como jogadores e que o ponto de equilíbrio ótimo, que harmoniza os interesses individuais e o interesse coletivo é uma miragem inalcançável. O que existe na realidade são situações descritas como “equilíbrio de Nash” em que os jogadores encontram-se em conflito, aferrados em suas próprias estratégias, pela inexistência de uma estratégia comum pactuada. Uma espécie de impasse que compromete os resultados de todos.
A política é o terreno onde a teoria dos jogos não cooperativos se aplica melhor. Todos os jogadores são ao mesmo tempo concorrentes e aliados. Dilemas de posicionamentos em relação a múltiplos temas e interesses, o desafio de encontrar estratégias convergentes que possam incentivar mudanças de posição de um modo conflituoso para um modo alinhado fazem o dia a dia das pessoas na política. Os profissionais da política que possuem poder na estrutura do estado e/ou disputam mandatos eletivos e também os cidadãos comuns que acompanham e participam dos acontecimentos políticos (principalmente com o surgimento das redes sociais) vivem esta realidade. Desde as questões que mobilizam a associação de moradores do bairro até as guerras e a política internacional.
Os dilemas da família Bolsonaro e dos pré candidatos a presidente da república e todos atores políticos que se opõem à reeleição de Lula são um exemplo de equilíbrio de Nash.
O principal legado eleitoral de Jair Bolsonaro em 2026 está na capacidade de influenciar a eleição de deputados federais e senadores. A presença de um Bolsonaro na chapa presidencial ajuda nesta tarefa, mas atrapalha a atração de segmentos distantes do polo extremista de direita, imprescindíveis para a construção de um projeto presidencial capaz de enfrentar o Lula 4. Esses dilemas vão se multiplicar nos palanques estaduais. O caso do Ceará foi emblemático: O PL cearense, com o apoio do presidente nacional Waldemar da Costa Neto e dos filhos Bolsonaro somou-se à frente de oposição ao PT encabeçada por Ciro Gomes, agora no PSDB. Ciro foi protagonista de agressões e ataques gravados em vídeo ao ex-presidente, revoltando a esposa Michele que disputa com os enteados a gestão do legado eleitoral do capitão.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, poderia unificar a oposição mas preferiu fazer gestos de solidariedade àquele a quem de fato deve a eleição. Deixou-se fotografar com o boné vermelho de Trump, compareceu a manifestação pela anistia na avenida Paulista, discursou atacando o STF e Alexandre de Moraes, e não unificou nem a família Bolsonaro em seu favor. Ao contrário, tornou-se alvo da luta interna pelo espólio eleitoral do ex-presidente. Anunciou que é candidato à reeleição ao governo paulista, mas a elite empresarial ainda não desistiu dele para tentar romper o equilíbrio de Nash da oposição.
Situações e dilemas equivalentes acontecem também no governo Lula. A indicação de Jorge Messias ao STF esticou a corda com o Senado e seu presidente Davi Alcolumbre acirrando o afastamento eleitoral dos aliados do centrão; a crise estrutural da segurança pública expõe a inoperância do governo federal e os preconceitos ideológicos do PT colocando aliados regionais como Eduardo Paes no Rio de Janeiro em tremenda saia justa; a crise fiscal se aprofunda com a desmoralização final do arcabouço de Haddad, o rombo das estatais, a fragilidade da fiscalização do mercado financeiro exposta no caso Master. O projeto Lula 4 é favorito mas o caminho até a eleição é longo e acidentado. Cheio de situações em equilíbrio de Nash, onde nenhum jogador tem incentivo para mudar sua estratégia unilateralmente, projetando inexistência de estratégia comum, perdas e derrotas.
John e Alicia Nash sua esposa, morreram em um acidente de carro em maio de 1995. Eles estavam saindo do aeroporto em New Jersey, voltando da Noruega onde Nash foi receber o Prêmio Abel, o Nobel da matemática. O táxi em que se encontravam tentou uma ultrapassagem e colidiu com o guard rail. O motorista sobreviveu mas o casal, que não usava cinto de segurança, morreu instantaneamente.
*Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de produção e professor universitário. Mestrado em desenvolvimento sustentável. Foi prefeito de Vitória-ES e deputado federal pelo PSDB-ES. Membro da ABQ — Academia Brasileira da Qualidade.
