O canadense Steven Pinker, professor do departamento de psicologia de Harvard, é um dos maiores cientistas cognitivos do mundo. Publicou em 2018 o livro “O Novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo”, considerado por Bill Gates como seu livro favorito de todos os tempos.
Logo no prefácio, ele adverte que este livro não é uma resposta a Donald Trump, pois foi concebido muito antes de sua candidatura, mas trata das ideias que prepararam terreno para sua eleição, ideias comuns a grande parte dos intelectuais e dos leigos, tanto de esquerda quanto de direita. Tornou-se predominante um pessimismo profundo quanto aos rumos que o mundo está tomando, em relação às instituições modernas e à incapacidade de conceber um propósito superior fora do âmbito da religião.
Steven Pinker apresenta uma visão de mundo muito diferente, antagônica ao pessimismo profundo hegemônico, alicerçada em fatos e inspirada nos ideais do Iluminismo: razão, ciência, humanismo e progresso. São ideais atemporais que nunca foram tão relevantes como agora.
A tese central do livro é que o mundo hoje é muito melhor do que já foi e pode ainda melhorar muito mais. Cerca de 75 indicadores, como expectativa de vida, subnutrição, extrema pobreza, desigualdade, mortes em batalha, mortes por homicídio, horas de trabalho, educação básica, satisfação com a vida, renda, violência, solidão e suicídio, entre muitos outros, foram pesquisados no trabalho de Steven Pinker com softwares avançados e grandes bancos de dados, para ilustrar e demonstrar a evolução que o autor se dispõe a provar.
Quem poderia ser contra a razão, a ciência e o humanismo? Steven Pinker responde:
“As ideologias de esquerda e de direita tornaram-se religiões seculares que proporcionam às pessoas uma comunidade de irmãos com uma afinidade de ideias, um catecismo de crenças, uma demonologia populosa e uma confiança beatífica na virtude de sua causa. A ideologia política prejudica a razão e a ciência, enevoa o discernimento, inflama a mentalidade tribal primitiva e desvia seus adeptos de uma compreensão mais sensata das maneiras de melhorar o mundo.”
O radicalismo populista predominante no debate político brasileiro de hoje é um exemplo de antiiluminismo, tão forte que parece ser intransponível. Enfrentar essa situação começa por não aceitar submeter-se ao falso imperativo da escolha entre um dos dois polos radicalizados e seus respectivos mitos. A opinião pública vai, aos poucos, engrossando a busca por uma alternativa. Os melhores analistas, por sua vez, vão deixando de usar os termos pejorativos “terceira via”, “nem-nem” ou, pior ainda, “isentão”, para designar aqueles que não querem o lulopetismo ou o bolsonarismo.
Também não adianta reclamar da antecipação do debate eleitoral, pois a tecnologia fez da eleição uma realidade permanente. A tensão máxima será no período do julgamento de Jair Bolsonaro e dos demais acusados de tentativa de golpe de Estado. As atitudes dos ministros do STF, as interferências e sanções de Donald Trump, as reações no Congresso Nacional e do governo Lula também estarão sendo julgadas pela opinião pública. Reações desesperadas tendem a acontecer.
Qual espaço para a razão? Como valorizar estadistas na política quando o caminho para o sucesso nas eleições é ser celebridade ou influenciador digital?
A resposta é participar da política: escolher, opinar e se envolver. As eleições são um momento muito especial. O inimigo comum é a desesperança e o descrédito, o pessimismo profundo que aprisiona as pessoas no isolamento egoísta.
A participação política é a resposta iluminista.
*Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de Produção e professor universitário. Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Ex-prefeito de Vitória-ES e ex-deputado federal pelo PSDB-ES. Membro da ABQ – Academia Brasileira da Qualidade.
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