Neste sábado, 8 de novembro, celebramos o Dia Mundial do Urbanismo — uma data que, para mim, é muito mais do que uma homenagem à profissão. É um convite à reflexão sobre como planejamos, vivemos e nos relacionamos com as cidades.
Como arquiteto e urbanista, acredito que o debate sobre mobilidade e qualidade de vida urbana precisa ganhar espaço nas pautas públicas e também no comportamento cotidiano de quem ocupa os espaços urbanos. Precisamos pensar nas cidades para as pessoas — não para as máquinas.
Tenho acompanhado, com preocupação, o rumo que nossas cidades vêm tomando. Ainda vemos muito investimento em infraestrutura voltada para o carro, enquanto o pedestre, o ciclista e o transporte público seguem em segundo plano. É urgente apostar em cidades mais inteligentes, acessíveis e inclusivas, que priorizem o caminhar, o pedalar e o conviver.
No Espírito Santo, por exemplo, a chegada do transporte aquaviário trouxe uma pequena melhora na rotina de deslocamento das pessoas, mas ainda é pouco. Precisamos usar melhor nossos espaços, ampliar ciclovias, reduzir o número de carros e repensar nossas prioridades.
Outro ponto que me preocupa é a popularização dos veículos elétricos individuais, como motos e bicicletas autopropelidas. Eles têm ocupado ciclovias e calçadas sem regulamentação adequada, o que revela o desequilíbrio de cidades que continuam priorizando o transporte motorizado em detrimento da mobilidade ativa. Enquanto continuarmos chamando esses veículos de “bikes elétricas”, estaremos mascarando um problema maior: a perda do espaço público e o incentivo à mobilidade individualista, veloz e hostil.
Mas o urbanismo vai além da mobilidade. Ele fala também sobre como nos conectamos com o espaço urbano e com a nossa história. Tenho trabalhado em iniciativas voltadas à revitalização do Centro de Vitória, porque acredito que essa região tem um enorme potencial de renascimento. É um espaço rico em construções históricas, cultura e identidade — e que pode voltar a pulsar se tivermos calçadas amplas, ciclovias contínuas, arborização densa e transporte coletivo eficiente.
O que quero provocar é uma reflexão: está na hora de imaginar cidades menos carrocêntricas e mais humanas. Lugares que valorizem o convívio, a diversidade e o bem-estar.
No meu dia a dia, também atuo em projetos e debates sobre mobilidade urbana, habitação social e requalificação de espaços públicos. E uma coisa é certa: a urbanização brasileira ainda é profundamente desigual. Há bairros que recebem investimentos constantes em infraestrutura, enquanto outros seguem sem moradia digna, transporte eficiente ou áreas verdes.
Uma cidade justa começa pela moradia.
Habitação social não é apenas construir casas — é garantir que as pessoas vivam próximas do trabalho, do transporte e dos serviços essenciais. Isso é política pública de verdade. E, mais do que isso, é urbanismo em sua essência.
*Murillo Paoli é arquiteto e urbanista
