O empreendedor que movimenta 700 mil cocos por ano na Grande Vitória

Empreendedor começou descarregando caminhões e hoje abastece dezenas de revendedores em toda a Grande Vitória; há sete anos, um cliente cardiologista ajudou a salvar sua vida

A rotina de Adenilson Lima Correia, o Denis do Coco, começa cedo, todos os dias. Às 6h30 da manhã, ele já está montando o ponto na Praia da Costa, em Vila Velha — e só encerra o expediente por volta das 10 da noite, depois de limpar e desmontar tudo. São cerca de 14 horas diárias de trabalho, de domingo a domingo, há mais de uma década.

Desempregado no início da trajetória, Denis começou ajudando a descarregar caminhões de coco. Foi ali, no improviso e na necessidade, que ele enxergou uma oportunidade. Observando como o antigo patrão comprava o produto nas fazendas e abastecia os pontos de venda, aprendeu o ofício e decidiu investir. Conseguiu um espaço na orla da Praia da Costa, montou o próprio ponto e nunca mais parou.

Hoje, o pequeno carrinho virou referência. Denis compra direto da fazenda e abastece dezenas de revendedores autônomos na Grande Vitória — trabalhadores que, assim como ele, vivem do coco. O negócio, que começou com uma barraca simples, hoje movimenta três caminhões por semana, o equivalente a mais de 15 mil cocos vendidos semanalmente e mais de 700 mil por ano.

Com o lucro e a disciplina de quem acredita no próprio esforço, ele conquistou dois caminhões, dois terrenos, duas casas na Bahia, uma caminhonete de trabalho e a tranquilidade de sustentar a família com dignidade.

Mas o caminho não foi fácil. Há sete anos, Denis enfrentou um susto que quase mudou tudo. Enquanto atendia no ponto, um cliente — médico cardiologista de Vila Velha — percebeu que ele estava ofegante e com a fala cansada. O médico se ofereceu para realizar exames gratuitos, e o diagnóstico revelou um problema sério no coração: ele precisava implantar duas pontes de safena.

“Foi um susto grande, mas também uma bênção”, relembra Denis. “Se não fosse esse cliente e o trabalho que me colocou em contato com tanta gente boa, talvez eu nem estivesse aqui hoje.”

Depois da cirurgia, ele voltou ao trabalho com ainda mais vontade. Desde então, segue firme — movido pela fé, pelo esforço e por um propósito que ele resume em uma frase simples: “Trabalhar de verdade dá certo”.

Entrevista – Denis do Coco, empreendedor capixaba;

News ES – Denis, como foi o começo da sua história empreendendo com coco aqui na Grande Vitória?

Denis do Coco – No meu caso, eu estava desempregado. Apareceu uma oportunidade para descarregar um caminhão de coco. Fui fazer o serviço, e o rapaz me chamou para entregar junto com ele. Levei a sério, e ele acabou me contratando pra ficar direto. Como eu fazia entregas com ele, comecei a conhecer as ruas de Vitória, os pontos onde o pessoal vendia água de coco e onde comprava o produto. Fui criando expectativa naquilo, observando como o negócio funcionava.

Com o tempo, surgiu a oportunidade de eu conseguir um ponto na praia. Fui aprendendo com ele como comprava na fazenda, porque até então eu não entendia nada de coco — nunca tinha mexido com isso. Hoje eu digo que não sei fazer outra coisa: o coco está na veia. Sou muito grato à Prefeitura por ter conseguido esse espaço aqui pra trabalhar.

News ES – Nós acompanhamos um pouco da sua história na Praia da Costa e percebi alguns diferenciais. Um deles é o preço competitivo e a qualidade do serviço. Você também tem aquele hábito de abrir o coco e oferecer uma colher para o cliente comer a fruta. Como surgiu isso?

Denis do Coco – Quando eu ainda era ajudante, eu já via esse costume de abrir o coco e oferecer pra pessoa comer, e achei que isso era um atrativo. Mantive o hábito. Hoje, o cliente toma a água e ainda pode comer a fruta com uma colher higienizada e enroladinha. Isso faz diferença — o atendimento conta muito.

Você também começou a vender outros produtos, certo?

Sim. Passei a vender suco natural de laranja e outros produtos saudáveis, porque o pessoal que consome coco também se preocupa com a saúde. Isso ajuda a agregar valor ao trabalho.

Quantos cocos você vende atualmente?

Hoje eu compro e vendo. Comecei como ajudante, depois consegui meu ponto, e fui juntando dinheiro até conseguir comprar uma carga inteira. Trabalho assim até hoje. Em dias normais, vendo em torno de mil cocos por dia durante a semana, e nos finais de semana esse número dobra. Na média, a gente trabalha com uns 6 mil cocos por semana fora do verão, e no verão esse número sobe muito.

E você também fornece para outros pontos, certo?

Denis do Coco – Sim. A gente busca o coco direto na fazenda e abastece outros vendedores. Hoje vendo três caminhões por semana, com cerca de 7 mil cocos por caminhão. No verão, chega a sair um caminhão por dia.

Entre os revendedores estão colegas que atuam na orla de Vila Velha, na Praia de Camburi e também dentro dos bairros. Água de coco é um produto tropical, saudável, e vende em qualquer lugar — ainda mais numa cidade quente como a nossa.

Você é hoje um dos maiores distribuidores da Grande Vitória?

Eu acompanho de perto os maiores, sim. Tenho parceria com outros empreendedores, como o João, e trabalhamos com coco aberto na hora — algo diferente, que o cliente vê sendo feito na frente dele.

E como é a questão do descarte das cascas?

Esse é um problema sério. Antes, a Prefeitura recolhia, mas parou. Então a gente precisa se virar. No meu caso, eu mando as cascas de volta pra fazenda, mas isso tem custo — e acaba encarecendo o produto. Comprei recentemente uma máquina trituradora de coco, que custou quase R$ 10 mil, pra tentar reaproveitar as cascas e resolver o problema de forma sustentável.

Você pensa em expandir o negócio?

Todo empreendedor pensa. Mas hoje o principal obstáculo é a mão de obra. É difícil achar gente comprometida. O ramo do coco é ótimo, e se eu conseguisse mais pessoas assim, abriria outros pontos. O problema não é vender — o produto é bom, natural, tem higiene e qualidade —, é encontrar quem queira trabalhar firme.

Como é a sua rotina?

É puxada! De segunda a segunda, chego às 6h30 da manhã e fico até 9h ou 10h da noite. A gente monta e desmonta tudo no mesmo dia, sempre limpando antes de ir embora. Mas é gratificante. O tempo passa que a gente nem percebe. Fiz muitas amizades, o trabalho vira prazer.

E o que você conquistou com todo esse esforço?

Graças a Deus, muita coisa. Hoje tenho dois caminhões que buscam o coco direto na fazenda, uma caminhonete pra trabalho, um carro pra família, e consegui comprar dois terrenos. Terminei duas casas na Bahia, e tudo com o que conquistei aqui, vendendo coco. Sou grato demais. Se a pessoa tiver objetivo e quiser dar dignidade pra família, tem que empreender, trabalhar. Se depender de salário mínimo, não dá pra crescer. O coco mudou minha vida.

E como você vê o futuro do seu negócio?

Quero continuar nesse ramo enquanto estiver com saúde. É o que sei fazer e gosto. Quero melhorar a rentabilidade, ajudar os parceiros que estão comigo e continuar cuidando da minha família. É só gratidão.

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Diretor de conteúdo – Eduardo Caliman

Jornalista formado pela Ufes (1995), com Master em Jornalismo para Editores pelo CEU/Universidade de Navarra – Espanha. Iniciou a carreira em A Tribuna e depois atuou por 21 anos em A Gazeta, como repórter, editor de Política, coordenador de Reportagens Especiais e editor-executivo. Foi também presidente do Diário Oficial, subsecretário de Comunicação do ES e, de 2018 a 2024, coordenador de comunicação institucional no sistema OAB-ES/CAAES.

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