Paixão de família: a jornada da Vinícola Carrereth nas montanhas capixabas

Por Rachel Martins

Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando um aumento significativo de consumo de vinhos. Segundo dados divulgados pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), o país registrou um crescimento de 11,6% no consumo da bebida entre 2022 e 2023.

O aumento é reflexo de mudanças culturais, fortalecimento da produção nacional e maior inclusão do vinho no cotidiano de diferentes perfis de consumidores brasileiros. A bebida, antes associada a ocasiões especiais, passou a ser consumida também em ambientes informais e cotidianos.

E o Espírito Santo não fica atrás, prova disso é a ExpoVinhos Vitória 2025 que trouxe mais de 1,2 mil rótulos de 16 países, sinalizando um mercado e um grande interesse pela bebida no Estado.

A coluna “na EStrada” conversou com Rodolpho Carrereth, sócio da Vinícola Carrereth, em Aracê, Domingos Martins, que contou um pouco de sua trajetória, o porquê de ter escolhido o Estado para o seu empreendimento, quais os vinhos finos que produz e como enxerga o potencial do Espírito Santo para esse mercado. Os outros sócios do empreendimento são Anderson de Lima Alves e Juliano de Lima Alves.

NEWS ES – Conte como começou sua paixão pelo mundo fascinante do vinho.

Rodolpho Carrereth – Minha paixão por vinhos veio da família, dos meus avós por parte materna, Catherine e Jean Pierre, que vieram da França na primavera de 1900. Lembro do meu avô e do meu pai bebendo vinho aos domingos, era um hábito lá em casa. Nós, os irmãos, éramos crianças e não podíamos tomar, mas eles colocavam um pouquinho de vinho em meio copo de água, açúcar, mexiam, molhavam em um pão velho e ofereciam para a gente chupar. Isso acabou se transformando em uma forte memória afetiva. E quando jovem, comecei a pensar que quando me aposentasse, plantaria uvas e produziria vinhos.

Por que você escolheu o Espírito Santo para colocar a sua vinícola, a Carrereth?

Eu sou do interior do Rio de Janeiro e acabei vindo estudar na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde cursei Matemática e Administração e fiz algumas pós-graduações, e como gosto muito do Estado, acho ele belíssimo, assim que me aposentei comecei a concretizar o sonho da nossa vinícola.

Como tudo começou e como são feitas as podas, em que época e quantas por ano?

Em 2016, convidei meus dois filhos como sócios, para a gente plantar uva e produzir vinhos finos. Mas na Região Sudeste é complicado, porque no verão, que seria a época de colher uva, normalmente chove muito e elas apodrecem. Então, fomos buscar uma técnica que permitisse trabalhar com uva fina na Região Sudeste.

Procuramos a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e o pesquisador Murillo Albuquerque que incorporou a dupla poda na viticultura, possibilitando a colheita de uvas no inverno. Ou seja, fazemos duas podas, uma em setembro, no início da primavera, cujos cachos de uva são descartados. E outra em fevereiro, no verão, cujos cachos de uva são colhidos em julho e agosto, a chamada colheita de inverno com a qual produzimos nossos vinhos.

Também contratamos a Vitácea Brasil, uma empresa franco-brasileira, que nos forneceu tanto as mudas quanto toda a técnica de formação do parreiral. E ainda nos sugeriu visitar a Epamig de Caldas, em Minas Gerais, que possui, desde 1940, uma incubadora de vinícolas para pequenos e grandes produtores que nos ajudou com o início da produção dos nossos vinhos.

Quais as uvas que você trouxe para cá, elas se adaptaram bem ao clima?

Nós trouxemos inicialmente quatro variedades. A que mais se adaptou foi a Syrah e a Sauvignon Blanc. Mas nós temos também Merlot e Cabernet. Além da Marselan. As mudas de uvas francesas chegaram por meio da Vitácea, todas certificadas. Por exemplo, nosso vinho Sauvignon Blanc tem uma característica bem peculiar, justamente por estarmos em uma região mais alta, a 1.020 metros de altitude, um clima bem ameno. Na época da colheita a gente colhe a uva com a temperatura em torno de 8 a 9 graus. Ou seja, a gente tem dias quentes e noites frias e isso dá uma condição para a uva ter uma maturação perfeita, com muito mais resveratrol, antocianinas, acidez, açúcares, o que proporciona altíssima qualidade, uma uva sã, sem doença.

Quantos rótulos são produzidos na vinícola?

A gente produz três rótulos, um corte Cabernet, Syrah e Merlot, denominado Oropesa, o nome do vapor que trouxe meus avós da França. E dois varietais (produzidos a partir de uma única uva), o Syrah, intitulado Gêmeas, em homenagem às minhas duas netas, e o Sauvignon Blanc, chamado Catarina, porque no dia da colheita nasceu mais uma netinha, que recebeu esse nome (que também é o da minha bisavó e da minha mãe) — as três gerações de mulheres na família.

Você está construindo uma adega e um bistrô na vinícola. Qual é a ideia do empreendimento?

Esses dois espaços já estão em construção para atender o público. A cave fica embaixo do bistrô e tem quatro metros de profundidade e vai abrigar as garrafas e as barricas.

Na sua opinião o Espírito Santo tem potencial para se transformar em um Estado com produção significativa de vinhos finos? O que é necessário e o que falta?

O Espírito Santo e outras regiões mais altas da Região Sudeste, como, por exemplo, Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro, Andradas, Caldas e Três Corações, em Minas Gerais, e Espírito Santo do Pinhal, em São Paulo, possuem, digamos, um clima mais próximo das necessidade das uvas finas. Inclusive, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) realizaram um levantamento de algumas áreas no Estado indicativas para plantio de uvas finas que foi apresentado na RuralturES 2025, em Venda Nova do Imigrante, no primeiro seminário com essa temática, dados que eles conseguiram por meio de estudos climáticos, entre outros, que devem facilitar ainda mais esse tipo de plantio aqui.

Nós estamos em um Estado abençoado e já tem várias pessoas, algumas que começaram bem antes de mim, empreendendo neste setor. É um desafio grande, uma cultura nova, ainda falta mão de obra especializada em dupla poda, é cara a implementação e também necessita de mais incentivo do Poder Público, mas acredito que estamos no caminho certo. Como diz a Baronesa Philippine de Rothschild, uma atriz francesa e produtora de vinhos, proprietária da vinícola Château Mouton Rothschild há mais de 400 anos: “Plantar uva e fazer vinho é fácil, o difícil são os primeiros 200 anos”.

Serviço

Vinícola Carrereth, em Aracê, Domingos Martins.

BR 262, vai até a Fazenda do Estado. No trevo (posto de gasolina), siga no sentido para São João do Garrafão, Afonso Cláudio. Percorra 15 quilômetros de asfalto, entre à direita seguindo sentido São João do Garrafão. Ande mais dois quilômetros, depois do segundo quebra-molas, entrar a primeira à direita. Após seguir 1,5 quilômetros de chão, continuar na estrada e na primeira bifurcação, entrar à esquerda até encontrar uma casa verde, e no fundo já avistará o parreiral.

Atualmente, estão disponíveis para venda algumas garrafas de Sauvignon Blanc e daqui a alguns dias vamos ter o Oropesa e o Syrah.

Telefone: (27) 99239-2750

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Diretor de conteúdo – Eduardo Caliman

Jornalista formado pela Ufes (1995), com Master em Jornalismo para Editores pelo CEU/Universidade de Navarra – Espanha. Iniciou a carreira em A Tribuna e depois atuou por 21 anos em A Gazeta, como repórter, editor de Política, coordenador de Reportagens Especiais e editor-executivo. Foi também presidente do Diário Oficial, subsecretário de Comunicação do ES e, de 2018 a 2024, coordenador de comunicação institucional no sistema OAB-ES/CAAES.

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