O Espírito Santo segue a tendência nacional de crescimento do empreendedorismo negro. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de janeiro de 2025 mostram que, dos cerca de 604,5 mil empreendedores capixabas, 55,69% são pessoas pretas, o que representa mais de 336,6 mil indivíduos.
Esse recorte aponta um perfil predominante: homens entre 45 e 49 anos com ensino médio completo ou incompleto. Além disso, 16,2% da população negra capixaba é formada por donos de negócios.
A pesquisa também indica que a maior concentração de empreendedores negros no país está nas regiões Sudeste e Nordeste, que juntas reúnem mais de 70% do total. No Sudeste, a participação dos negros donos de negócios cresceu de 29,9% em 2012 para 38,3% em 2024, o que evidencia um movimento consistente ao longo da última década.
Participação crescente e geração de renda
“Esses dados representam uma consolidação importante, resultado de um crescimento consistente ao longo da última década”, destaca Juliana Castro, gestora do Programa Plural do Sebrae/ES. Em 2012, os empreendedores negros representavam 50,4% do total no estado. O avanço gradual foi confirmado por um relatório do Sebrae com base em dados da Pnad Contínua do IBGE, divulgado no fim de 2023.
A maioria desses empreendedores atua por conta própria, mas uma parcela crescente já ocupa a posição de empregador, o que amplia o impacto positivo do segmento na geração de renda e oportunidades nas comunidades.
A pesquisa também revela que ainda existem desafios importantes, como a formalização dos negócios e o acesso à educação. Apenas 25,9% dos empreendedores negros no Espírito Santo possuem CNPJ. No aspecto educacional, muitos têm apenas o ensino fundamental, embora haja avanços entre as mulheres negras, cuja maioria já possui ensino médio completo, com crescimento expressivo nos últimos dez anos.
Coragem, ancestralidade e protagonismo feminino
A história da empreendedora Dilma Silva, 55 anos, é um reflexo da força desse movimento. Carioca, ela chegou ao Espírito Santo há 15 anos, em busca de uma nova vida como mãe solo. Enfrentou preconceito e desvalorização, mas, com determinação, fé e apoio, construiu um caminho de sucesso e representatividade.
Ela é fundadora da Bem Afro (@bem.afro), marca de acessórios e moda afro que valoriza a ancestralidade e fortalece a identidade negra. Criada em 2020, durante a pandemia de covid-19, a Bem Afro oferece turbantes, mochilas, bolsas, colares, brincos e outros produtos feitos por Dilma e sua filha, Lara.
“Criamos a Bem Afro porque sentimos falta da nossa representatividade ancestral. Ela nasceu para resistir com várias outras mulheres guerreiras e fortes”, afirma a empreendedora, que também participa de iniciativas da Economia Solidária do ES.
Caminho de transformação
Apesar dos desafios, o protagonismo negro no empreendedorismo capixaba segue crescendo e transformando realidades. “A população negra enfrenta desafios históricos no acesso a oportunidades, mas segue transformando realidades com força e criatividade. O empreendedorismo tem sido um caminho de autonomia e geração de renda, especialmente entre as mulheres negras, que representam uma grande força empreendedora do país”, pontua Juliana Castro.
Foto: Sebrae-ES