Pesquisa revela que 52% dos brasileiros apontam saúde mental como principal problema de saúde no país

Professores da Estácio destacam mudança cultural, sobrecarga social e a necessidade de fortalecer redes de cuidado emocional

Pela primeira vez, a saúde mental superou o câncer como a maior preocupação de saúde dos brasileiros. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Ipsos no último 7 de outubro, 52% da população considera os transtornos mentais o principal desafio sanitário do país.

O dado, divulgado na semana em que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), reforça o alerta de profissionais e instituições sobre a importância de ampliar políticas públicas e redes de apoio emocional no Brasil.

Conscientização e quebra de estigmas

Para a professora e psicóloga Sátina Pimenta, coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio de Vitória, o crescimento da atenção à saúde mental não reflete apenas o aumento dos casos, mas também uma mudança cultural e o fim do silêncio sobre o tema.

“Antes, as pessoas não queriam falar sobre saúde mental. Havia vergonha em se reconhecer nesse lugar de quem precisava de ajuda. Com a pandemia, isso mudou e agora passamos a nos ver como pessoas que podem e devem buscar apoio”, explica.

“Não é que todos estejamos mais doentes, mas hoje conseguimos reconhecer o adoecimento e falar sobre ele. Essa virada de chave é importante porque lidar com a realidade de forma consciente é o primeiro passo para enfrentá-la”, completa Sátina.

O professor Rafael Valêncio, coordenador do curso de Psicologia da Estácio de Vila Velha, destaca que houve uma transformação profunda na forma como a sociedade entende o cuidado emocional.

“Há 20 anos, ir ao psicólogo era sinônimo de loucura. Hoje, entendemos que o cuidado em saúde mental é parte do autocuidado. Ele não se restringe à terapia ou à medicação — envolve hábitos, relações, o corpo, a alimentação, o descanso. É um cuidado que a Organização Mundial da Saúde chama de biopsicossocial”, afirma.

Um mundo que cobra demais

O cenário atual, marcado por pressões sociais e ritmo acelerado, é um dos principais fatores de desgaste emocional, segundo os especialistas.

“Vivemos em um mundo onde tudo se cobra, tudo se deseja, tudo se quer e nada é suficiente. As redes sociais e o mercado de trabalho alimentam uma lógica de exigência impossível de ser alcançada. Quando damos ‘tudo’ ao trabalho, tiramos algo de outro lugar, que pode ser da família, da saúde física, da mente. É um mundo do tudo que, no fim, nos deixa sem nada”, observa Sátina Pimenta.

Rafael Valêncio complementa:

“O trabalho hoje invade nossas casas por meio do celular e das mensagens. O desafio é conseguir se desconectar, ter vida além do trabalho. Às vezes, cuidar da saúde mental é simplesmente permitir-se parar, estar com a família, ir à praia, ler um livro. São pequenos gestos que resgatam o equilíbrio e a conexão com o que somos.”

Políticas públicas e empatia nas relações

Para Sátina, o reconhecimento social do sofrimento emocional é um passo essencial — tanto nas políticas públicas quanto no cotidiano das relações.

“No Espírito Santo, temos bons exemplos de acolhimento na rede de atenção psicossocial, mas ainda há carência de acesso. A Estácio, por exemplo, tem cumprido um papel essencial nesse apoio. Só nos últimos três meses, nossos alunos receberam mais de 300 solicitações de atendimento psicológico. Isso mostra o tamanho da demanda e a importância da oferta gratuita e acessível”, afirma.

Ela também reforça o papel da empatia:

“Não cabe mais dizer que alguém está ‘de corpo mole’ porque tem ansiedade ou depressão. Precisamos respeitar a dor do outro, seja no trabalho, na escola ou nas relações afetivas. Esse olhar empático é parte do cuidado em saúde mental.”

Os professores concordam que não existe fórmula única para o equilíbrio emocional, mas reconhecem que autoconhecimento e mudança de hábitos são caminhos possíveis.

“Não existe um manual com dez passos para produzir saúde mental”, afirma Rafael. “Cada pessoa tem seu modo de cuidar de si, mas é importante reconhecer o que nos faz bem e o que nos adoece. Às vezes, isso envolve mudar de ambiente, buscar terapia, ou simplesmente reservar tempo para o que nos dá prazer e sentido.”

Sátina conclui com um lembrete:

“Falar sobre saúde mental é fundamental, mas não basta. Precisamos agir e ampliar políticas públicas, promover ambientes de trabalho mais saudáveis, educar para o cuidado emocional. Cuidar da mente é cuidar da vida.”

sobre nós

Diretor de conteúdo – Eduardo Caliman

Jornalista formado pela Ufes (1995), com Master em Jornalismo para Editores pelo CEU/Universidade de Navarra – Espanha. Iniciou a carreira em A Tribuna e depois atuou por 21 anos em A Gazeta, como repórter, editor de Política, coordenador de Reportagens Especiais e editor-executivo. Foi também presidente do Diário Oficial, subsecretário de Comunicação do ES e, de 2018 a 2024, coordenador de comunicação institucional no sistema OAB-ES/CAAES.

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