A imprudência no trânsito, os gargalos estruturais, os acidentes e as mortes em rodovias federais que cortam o Espírito Santo foram temas discutidos, nesta quarta-feira (18), durante reunião da Comissão Especial de Fiscalização da Infraestrutura da BR-101, BR-262 e Rodosol, presidida pelo deputado estadual Gandini (PSD). O encontro contou com a participação do chefe da delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Linhares, Carlos Alessandro Ravani, que apresentou dados atualizados sobre os primeiros cinco meses de 2025.
Segundo Ravani, mais de 60% dos óbitos registrados entre janeiro e maio deste ano ocorreram na BR-101. No entanto, o servidor esclareceu que isso não significa, necessariamente, que essa rodovia esteja em piores condições do que a BR-262 ou o projeto “antigo e defasado” da BR-259. O levantamento indica, inclusive, que os trechos já duplicados concentram mais acidentes do que os trechos de pista simples.
“Então o problema é a duplicação, tenho que fazer tudo rodovia simples? Por óbvio que não, tudo é contexto”, argumentou. Para ele, a análise da BR-101 e seus índices de sinistros precisa considerar a complexidade dos trechos urbanos, como os de Serra, Viana, Linhares e São Mateus. Nesses locais, há uma sobreposição de trânsito de longa distância, tráfego urbano intenso, circulação de pedestres e cruzamentos ativos.
“A duplicação é uma ação de infraestrutura importante, mas ela também não é, por si só, a resposta de todos os problemas de segurança viária. Vai resolver parte deles”, afirmou.
Outro ponto destacado pelo representante da PRF foi o aumento nos acidentes com motocicletas. Dados do Ministério dos Transportes apontam que, no Espírito Santo, a frota de motos cresceu 24% no último ano, enquanto a de automóveis aumentou 11%. Ravani observou que, em um país com renda média de R$ 3 mil, a motocicleta tende a ser a principal alternativa de locomoção.
“Ainda que haja duplicação, há muita interferência, há muito que evoluir, para se chegar ao projeto da via em si. E se vou fazer a duplicação, sempre pensar na infraestrutura necessária ao pedestre. Como será a travessia do pedestre neste local?”, questionou.
Ele também citou que há trechos com grande volume de tráfego, como na Serra, onde passam cerca de 50 mil veículos por dia. “Não pode comparar com local que passa mil por dia”, observou.
Números atualizados
Entre janeiro e maio de 2025, as rodovias federais no Espírito Santo registraram 67 mortes. No mesmo período de 2024, foram 73. No total do ano passado, foram 176 mortes, das quais 114 – quase 65% – ocorreram na BR-101.
Nesse mesmo intervalo de 2025, a PRF recuperou 98 veículos roubados, o que representa uma média de uma ocorrência a cada 36 horas. A corporação também prendeu 386 pessoas, sendo 21 em ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas, com apreensão de quase uma tonelada de entorpecentes. Além da repressão, a PRF desenvolve ações educativas em parceria com outros órgãos e escolas.
O uso das informações
Durante a reunião, o deputado Gandini questionou o uso dos dados produzidos pela PRF na formulação de soluções para as rodovias federais. Ravani explicou que a corporação responde a demandas de câmaras municipais, compartilha as informações com prefeituras e também as envia para a concessionária Eco101, responsável pela BR-101, que tem um setor de engenharia voltado a intervenções estruturais.
O parlamentar também apresentou demandas de revisão de acessos e cruzamentos em cidades como Jaguaré e Pinheiros, destacando que os deputados acompanham de perto os gargalos por percorrerem o interior do estado. As sugestões serão encaminhadas ao órgão federal.
Ravani alertou, no entanto, que parte dos problemas decorre da conduta de motoristas que ignoram retornos seguros e preferem cruzar pistas de forma irregular. Para ele, em casos em que a construção de contornos viários não é viável, cabe ao poder público local reforçar a conscientização dos condutores.
Relatos de imprudência
Durante o encontro, o aposentado Ivan Soella denunciou o comportamento de caminhoneiros que, segundo ele, pressionam veículos de passeio a saírem da pista. “Os caminhões têm protocolo de te tirar da pista e fazer ultrapassagem. Primeiro piscam o farol. Você está obedecendo. Oitenta, você tem que andar a 80. Sessenta, andar a 60. Depois encostam para-choque. Depois, você insiste em manter a velocidade da via, eles abrem a buzina a ar, o que desestabiliza”, relatou. Segundo ele, esse tipo de comportamento tem levado motoristas ao acostamento, muitas vezes com desnível, provocando acidentes.
Ravani respondeu que, apenas em 2024, a PRF emitiu cerca de 800 mil autos de infração por excesso de velocidade, com base em radares fixos e portáteis. Também explicou que, pelas normas brasileiras, a fiscalização deve ser feita com viaturas caracterizadas, o que dificulta o uso de veículos descaracterizados como sugerido.
Encerramento
O deputado Gandini encerrou a reunião reforçando que os desafios logísticos impostos pelas rodovias federais impactam o desenvolvimento do Espírito Santo. “Rodovia federal é sinônimo de desafio para o nosso estado. Precisamos romper com essas barreiras logísticas impostas, tanto na BR-262, 259 quanto na 101. A BR-101 tem uma solução em curso, pelo menos. A 262 terá recurso do acordo de repactuação de Mariana, que permitirá a realização de uma parte da obra”, afirmou.
Informações e foto: Ales