O suicídio dificilmente acontece de forma repentina. Na maioria dos casos, é o desfecho de um processo silencioso, marcado por sinais que passam despercebidos pela família, amigos e pela sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil casos anuais, o que equivale a 38 vidas perdidas por dia.
Diante dessa realidade, o Setembro Amarelo surge como uma campanha mundial de prevenção, que busca quebrar tabus, estimular o diálogo e ensinar a identificar sinais de sofrimento emocional. Reconhecer esses sinais pode ser decisivo para salvar vidas.
O que dizem os especialistas
A psicanalista e especialista em comportamento humano Joseana Sousa explica que o suicídio dá indícios antes de acontecer. Segundo ela, fatores como dívidas, traições, alcoolismo, isolamento social e, principalmente, a sensação de não ser levado a sério ou de não encontrar saída para a dor, alimentam o processo.
Joseana ressalta que, se no passado o isolamento era o maior risco, hoje a exposição excessiva também representa ameaça.
“A chamada comparação social, intensificada pelas redes digitais, vem sendo considerada um dos grandes males do século. A constante comparação com vidas aparentemente perfeitas pode aprofundar sentimentos de inadequação e desesperança”, afirma.
Outro ponto destacado pela psicanalista é o efeito contágio: histórias de suicídio podem influenciar pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente no fim de setembro.
“Por isso é tão importante falar de forma clara e sensível sobre o tema, sem estigmas. É conscientizando que criamos uma sociedade mais inclusiva, que acolhe o outro em suas dificuldades”, reforça.
Atenção aos sinais de risco
Entre os sinais que podem indicar pensamentos suicidas estão:
Mudanças bruscas de humor ou comportamento
Comentários frequentes sobre morte ou falta de sentido para viver
Desespero e isolamento social
Perda de interesse em atividades antes prazerosas
Alterações no sono ou no apetite
Uso excessivo de álcool ou drogas
Descuido com a higiene e aparência pessoal
“Muitas vezes, a pessoa comunica de forma indireta seu desejo de desistir, seja em frases soltas ou em atitudes que demonstram despedida”, alerta Joseana.
Como ajudar
Reconhecer é apenas o primeiro passo. O próximo é acolher sem julgamentos. Escutar com atenção, validar a dor do outro e levar a sério qualquer sinal de desesperança são atitudes fundamentais. Em situações de risco iminente, a orientação é procurar ajuda médica imediatamente ou ligar para o CVV (Centro de Valorização da Vida), no número 188, disponível 24 horas por dia, gratuitamente e de forma sigilosa.
Além da rede de apoio familiar e social, o acompanhamento com profissionais de saúde mental – psicólogos, psicanalistas e psiquiatras – é essencial para que o indivíduo encontre novos caminhos e ressignifique sua dor.
A trajetória de Joseana Sousa
A sensibilidade de Joseana sobre o tema vem também de sua própria história. Nascida no interior do Maranhão, em meio à pobreza extrema, viveu desde cedo situações de perda e sofrimento: foi entregue pelo pai, que enfrentava o alcoolismo, a outra família e, pouco depois, ele tirou a própria vida. Mais tarde, perdeu a mãe adotiva e o irmão.
Formada em Ciências Aeronáuticas, tornou-se a primeira mulher piloto de avião maranhense, profissão que exerceu por mais de uma década. Mas em 2020, com a pandemia, um bebê de sete meses e mudanças intensas na vida pessoal e profissional, enfrentou depressão e iniciou um profundo processo de autoconhecimento.
Voluntária na África, estudou Psicanálise Clínica e, de volta ao Brasil, se especializou em Neurociência, Hipnose Clínica e Constelação Familiar, migrando da aviação para a psicoterapia.
“Enquanto antes eu conduzia aeronaves, hoje conduzo pessoas para dentro de si mesmas”, resume.
Em 2022, lançou o livro “Caixa-Preta”, autobiografia que mistura relatos pessoais e reflexões sobre superação. Atualmente, atua como psicoterapeuta especializada em Saúde Emocional e Mental da Mulher, com metodologia própria de atendimento voltada ao enfrentamento de traumas, fobias, padrões repetitivos e conflitos familiares.
O que é o Setembro Amarelo
A campanha de conscientização sobre o suicídio foi criada no Brasil há cerca de dez anos, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), inspirada em movimento semelhante que existe desde a década de 1990 nos Estados Unidos.
Desde então, setembro tornou-se um mês de mobilização nacional e internacional, com debates, eventos e iluminação de monumentos em amarelo, como forma de chamar a atenção para o tema e reforçar a importância da prevenção.
👉 Quer que eu prepare também uma versão reduzida em formato de “guia rápido” — só com os sinais de alerta, como ajudar e contatos de apoio — para complementar essa matéria principal?