Uma pesquisa conduzida pelo Hospital de Amor, em Barretos (SP), identificou uma associação direta entre a presença de uma bactéria comum na boca e o desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço. A bactéria Fusobacterium nucleatum, integrante da placa bacteriana, se alimenta de resíduos alimentares que permanecem nos dentes por conta de uma escovação inadequada.
Segundo o estudo, a superpopulação dessa bactéria pode aumentar significativamente o risco de desenvolvimento de tumores nessa região do corpo. Além disso, sua proliferação descontrolada está associada a doenças bucais, como a periodontite, uma inflamação grave da gengiva.
Durante a campanha Julho Verde, dedicada à conscientização e prevenção do câncer de cabeça e pescoço — que pode afetar estruturas como a laringe, a orofaringe, a língua e a tireoide —, profissionais da saúde intensificam os alertas sobre a importância da higiene bucal e da observação de sintomas precoces.
“A higiene bucal regular é um dos pilares da prevenção do câncer na região da boca, e esse estudo vem reforçar essa necessidade, pois a higienização inadequada pode predispor ao desenvolvimento de câncer na cavidade oral, principalmente em pessoas com problemas de periodontite”, explicou a médica oncologista Virgínia Altoé Sessa, do Hospital Santa Rita.
A especialista também lembrou que outros fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço incluem tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção por vírus como HPV e EBV.
Para a dentista oncológica Beatriz Coutens, os resultados da pesquisa representam um avanço importante na compreensão da ligação entre a bactéria Fusobacterium nucleatum e doenças como a periodontite e o câncer bucal.
“Ainda existem mais estudos a serem feitos, mas isolar um patógeno mais predisponente ajuda a estabelecer ações preventivas. A fusobactéria tem como característica ser bastante virulenta, ou seja, ter uma grande capacidade de provocar danos às células, estando relacionada ao desenvolvimento da doença periodontal”, destacou.
Coutens explicou que a periodontite se caracteriza pela inflamação dos tecidos da gengiva e dos ossos da boca. De acordo com ela, há consenso na comunidade científica de que essa condição pode gerar impactos sistêmicos no organismo.
“A proliferação de bactérias da periodontite pode interferir em outras áreas do corpo, causando problemas como doença cardiovascular, parto prematuro e doenças reumatoides, além do aumento do risco de desenvolvimento do câncer. Manter a higiene bucal diária e realizar visitas regulares ao dentista são ações fundamentais para a prevenção”, orientou.
A oncologista Virgínia Sessa alertou ainda sobre os principais sinais de atenção, que podem variar conforme o local e o tipo de tumor:
“Na laringe, por exemplo, a pessoa pode apresentar rouquidão persistente, dor ao engolir, dificuldade para respirar e caroço no pescoço. Na boca, podem surgir manchas ou feridas, dor e dificuldade de mobilizar a língua. Já o câncer de tireoide pode se manifestar por nódulo no pescoço, rouquidão, inchaço na parte anterior do pescoço, tosse, dificuldade de engolir ou respirar”, esclareceu.